Foto: Museu Imperial/Ibram/MinC
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Casa Edsan: tesouro entre tecidos

Tradicional, o estabelecimento reunia clientes sofisticados, que fizeram dele “o ditador da elegância em Petrópolis”

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O som emitido pelas máquinas de costura se confundia com o ruído da projeção de um filme antigo. Enquanto a linha ia e vinha, em sua mente era a película que se movia. Diante dos olhos do comerciante Eduardo dos Santos, flashes dos obstáculos enfrentados eram projetados como um lembrete de que, fruto de determinação, um império havia sido construído: a Casa Edsan.

Arquivo pessoal Joaquim Eloy – Bruno Avellar

Como explica o professor e historiador Joaquim Eloy, irmão de Eduardo, o empreendedor tinha 20 anos de idade quando se rendeu às ambições e, mesmo sem conhecer técnicas de corte, deu início à confecção de camisas no sótão de casa. Tendo trabalhado na Casa Fortaleza, loja de artigos masculinos, o rapaz sonhava em abrir o próprio negócio.

“O senhor Reinaldo Chaves, que era proprietário da Fortaleza, decidiu se mudar e acabou que quem assumiu a loja foi meu irmão, que trabalhava para ele como caixeiro. Eduardo tinha talento nato pela atividade comercial, sabendo, como ninguém, cativar os clientes, torná-los amigos, prestigiá-los com fina educação e cordialidade”.

Pioneiro na produção de camisas sob medida, Eduardo fundou a Casa Edsan, batizada a partir das iniciais de seu nome e sobrenome. “Eu dou um grande valor a ele, e não é por ser meu irmão não. A Edsan era ele, que criou algo novo aqui em Petrópolis e virou referência. O Eduardo foi um comerciante genuinamente petropolitano em favor da cidade, pela cidade”.

Tradicional, o estabelecimento reunia clientes sofisticados, que fizeram dele “o ditador da elegância em Petrópolis”. Um desses fregueses é o aposentado de 73 anos Antônio Mebus, que fez questão de recorrer à Casa Edsan na compra de seu terno de casamento.

“A Casa Edsan tinha todos os segmentos de roupa masculina e as melhores marcas. Comecei a comprar lá aos 18 anos, quando fui contratado pelo Hotel Quitandinha. Já o terno do meu casamento comprei em 1972, um tropical inglês fabricado pela Confecções Camelo. Um luxo! Fez sucesso, todo mundo gostou”.

Entre tecidos e fitas métricas

Foto: Museu Imperial/Ibram/MinC

Procurada, a loja se destacava por sua qualidade e tratamento diferenciado. Gilmar Veiga, de 53 anos, conta que teve o prazer de ser funcionário da loja por cerca de seis anos: experiência a que se refere com gratidão e carinho.

“O movimento era fabuloso porque tudo era feito sob medida e com tecido de primeira qualidade: linho, voil, cambraia. Tínhamos clientes que vinham do Rio como advogados e juízes que faziam a encomenda de camisas. Inclusive, naquela ocasião, o Fórum funcionava onde é hoje o Cefet, em frente à loja, então tínhamos muito clientes de lá”.

Gilmar, que hoje atua como corretor de imóveis, atribui à Casa Edsan seu conhecimento na área de vendas. “Comecei como vendedor da loja aos 18 anos. Vendíamos a roupa masculina completa. O noivo, por exemplo, chegava e saía completamente vestido. Entrei lá sem saber dar um nó numa gravata, mas aprendi a vender, a lidar com o público, a montar vitrines”.

Também vinda do Rio e cliente assídua da Casa Edsan é a dona de casa Maria do Rosário Buarque. Aos 64 anos ela relembra as compras feitas no local e que ainda hoje são guardadas com zelo pela família.

“Comprei muitas roupas para meu marido lá, incluindo umas blusas de lã de manga comprida que existem até hoje, inteiras. A gente era atendido à antiga. Era como voltar no tempo: os balcões, as prateleiras, a disposição da loja, era tudo bem característico da década de 50, talvez até antes disso. A Casa Edsan faz parte do lado bom da minha vida, que foi a época em que morei em Petrópolis”.

Fotos: Arquivo pessoal Joaquim Eloy – Bruno Avellar

Igualmente marcada pelo negócio é a professora e psicóloga Olivet de Oliveira, de 59 anos. Ela conta que não pensava duas vezes na hora de escolher o local de compra de presentes para o pai e os irmãos.

“Você se sentia bem não só pelo atendimento, mas porque a loja era completa. Nunca fui lá e deixei de comprar porque tinha tudo e da melhor qualidade: pijamas, camisas sociais e os ternos também. Eles não tinham aquela pressa para a pessoa sair de lá. Quando fecharam eu fiquei muito triste. Sinto saudade mesmo”.

Motivo de orgulho para a cidade e, principalmente, para seu fundador, o império se fez entre tecidos e fitas métricas. Fruto de ideias alimentadas pelo tempo, a Casa Edsan é prova de que o sucesso nasce do querer.

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 21/10/2018)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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