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CDL Petrópolis celebra 60 anos de história no município

Como um grupo de empresários, uma modesta sala e um único propósito revolucionaram o comércio petropolitano

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Valioso capítulo da história local, o comércio petropolitano é caracterizado pela cultura de traduzir a tradição em produtos e serviços. E o mesmo vale para a CDL, a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Petrópolis. Há 60 anos no município, a entidade mantém seu propósito de valorizar e representar aqueles por trás dos balcões e letreiros: comerciantes que, mais do que a economia, movimentam a vida de Petrópolis.

Fundada no dia 4 de agosto de 1961, numa modesta sala do número 39 da Rua Irmãos D’Ângelo, a CDL – então Clube de Dirigentes Lojistas – teve como lema, desde o princípio, “transformar frios letreiros de lojas, em homens que se entendem”. Pautada pela união, a entidade se mostrou capaz não apenas de aproximar os empresários e validar seus interesses, mas, sobretudo, incentivar a comunidade a caminhar numa mesma direção.

Foto: Arquivo Histórico/CDL

Movida pela paixão pelo comércio, o rumo tomado não poderia ser outro, a não ser o do sucesso. Filha de um dos fundadores da CDL – o empresário Fernando Lannes do Carmo, Teresa Cristina do Carmo, de 61 anos, revisita suas recordações da instituição, cujas festividades sempre lhe pareceram reuniões de família. Até porque, coincidentemente, a fundação da CDL aconteceu no mesmo dia do nascimento de sua irmã, Maria Claudia.

Fotos: Arquivo pessoal/Teresa Cristina do Carmo

“Meu pai costumava dizer que eram dois filhos nascidos no mesmo dia: a CDL e minha irmã. Ele estava na inauguração, foi chamado às pressas para o hospital, e depois voltou”, conta Cristina. Lembrada com orgulho por seu pai nos discursos, a história se tornou, praticamente, sinônimo do porquê do grupo ter se reunido: para fazer nascer ideias capazes de valorizar o caminho percorrido e, a partir dele, traçar novos rumos para o futuro.

“Era um grupo muito bacana de empreendedores e uma data importante para eles, para o comércio, e para as famílias, porque sempre tinha um encontro”, expressa Cristina, que comenta, ainda, a evolução no sistema de armazenamento das informações de crédito dos clientes. Se no começo os dados eram reunidos dentro de caixinhas de sapato nas lojas, com o passar do tempo o arquivo passou a ser centralizado na sede própria da CDL.

Transformação, inclusive, testemunhada pelo petropolitano Luiz Carlos Santiago Fontes, de 68 anos. Contratado, em seu primeiro emprego nas Modas Casa Nova, para percorrer as lojas do Centro e verificar o histórico de compras dos clientes nos estabelecimentos, ele fala sobre como era o processo de aprovação de crédito da época e sobre sua rotina que estava longe de ser restrita a quatro paredes.

“Naquela época não tínhamos nenhum sistema de computador, internet ou wi-fi, então meu serviço era ir até a CDL, conferir a referência de lojas que o cliente nos dava e, em seguida, rodar cada uma delas para verificar se o cliente havia, efetivamente, feito a compra e como ele havia efetuado os pagamentos. Eu retornava para a loja com a ficha e informava ao departamento se ele era ou não um bom pagador para que fosse feita a venda a prestação”.

Num verdadeiro trabalho de investigação, Luiz Carlos explica que era junto à CDL que se verificava se alguma loja havia sido omitida pelo comprador. Quando isso acontecia, era quase certo de o cliente não ter efetuado o pagamento naquele local. Exercido pelo petropolitano de maio de 1969 a setembro de 1970, o trabalho foi substituído, ainda em 70, pela implantação de um sistema de comunicação integrado da CDL com as lojas.

Nas fichas, de A a Z

Se hoje a base nacional do SPC pode ser acessada com um celular na palma da mão, lá atrás o armazenamento de dados era centralizado em fichas dispostas em arquivos rotatórios. Organizados por ordem alfabética, eles tinham suas informações repassadas aos lojistas que, por telefone, faziam as consultas. Funcionária da CDL Petrópolis há 33 anos, Silvia Machado, de 51 anos, revive as mudanças passadas pelo setor que hoje gerencia.

Contratada como estagiária do arquivo, Silvia participou de todas as transformações envolvendo as fichas e consultas para a realização do crediário. “A empresa tinha uma linha privada em que a atendente tirava o telefone do gancho e aí acendia uma luzinha indicando qual empresa estava ligando. Ela, então, passava as informações para a loja e, depois, a colocava em contato com o outro lojista para que ele tivesse as referências do cliente”.

Foto: Arquivo Histórico/CDL

Centralizado em três arquivos, com cinco atendentes cada, o atendimento aos associados era feito durante todo o dia. Pautado por mesas telefônicas com conectores, o trabalho, em determinado momento, passou a ser intermediado por ramais. E o mesmo vale para os arquivos que, de grandes estruturas manuais, deram lugar a computadores ainda em meados dos anos 80: sinal de agilidade para os associados, atendentes e compradores.

Foto: Arquivo Histórico/CDL

“Naquela época vinham muitas pessoas de fora fazer compras na Rua Teresa. Nesse caso, nós tínhamos que fazer uma ligação interurbana para a cidade de origem da pessoa e aguardar pela resposta que, às vezes, demorava mais de hora. Com a informatização ficou muito mais ágil. A empresa ligava e nós dávamos a resposta de imediato. Depois, as próprias empresas passaram a fazer as consultas porque foi implantado o sistema on-line”.

Retrato de uma mudança de cultura, como descreve o especialista em redes de computadores e Internet, Airton Coelho Vieira Junior, de 51 anos, a informatização dos sistemas da CDL caminhou junto das transformações culturais e sociais da época. Tendo sido um dos responsáveis por modernizar os sistemas da entidade, ele comenta os desafios vividos e a evolução da tecnologia e do comércio desde então.

Foto: Arquivo Histórico/CDL

“Foi uma experiência única. A gente teve uma transformação. Era tudo crediário no papel, no carnê, e aí a gente passou pelo crescimento do cheque, pelo advento da internet, do comércio eletrônico e agora os cartões de crédito. Não só eu participei do desenvolvimento do SPC, mas a gente desenvolveu e operou por décadas sistemas que eram auxiliares na operação da CDL, como folha de pagamento e folha contábil”.

Do papel à tela, Airton lista quatro “ondas” de reformulação dos arquivos da CDL, sendo a primeira a migração para os computadores e a última a ampliação da velocidade de processamento e do armazenamento de dados. “Tivemos a transformação digital, de sair do papel e virar tecnologia, depois tivemos duas ondas de melhoria e aumento da capacidade, e uma final de mudança de cultura em que colocamos o serviço totalmente eletrônico”.

Olhos no passado e no futuro

Da fundação da CDL para cá, não há dúvidas de que o passar dos ponteiros tenha ditado muitas das transformações vividas pela entidade. Da informatização dos sistemas à composição da Câmara, permanece intacto, porém, o empenho em se fazer presente junto à comunidade petropolitana. É o que comenta, com satisfação, o atual superintendente da CDL de Petrópolis, Abrahão Jorge Bailune, de 56 anos.

Filho do ex-comerciante, diretor e presidente da CDL, Abrahão Bailune, no mesmo ano em que a entidade completa 60 anos de fundação, o superintendente celebra 36 anos de dedicação à associação. Contratado como office boy, ele percorreu, praticamente, todos os setores da empresa, passando pelo SPC, setor de cobranças, tesouraria, se tornando chefe de departamento financeiro, secretário executivo e, agora, superintendente.

Para Abrahão, recordar a história da CDL é lembrar e honrar as trajetórias dos ex-presidentes, diretores, associados e colaboradores que trilharam, junto dela, um caminho construído à base do esforço coletivo e da união. Empenho comprovado, por exemplo, pela realização das famosas campanhas de Natal da entidade, que sempre levaram às ruas e aos lares petropolitanos a certeza de que é no comércio que se escrevem memórias.

“Ao longo da história, a CDL sempre realizou campanhas de incentivo às vendas. Foram sorteados diversos automóveis, viagens, e a maior campanha que a CDL realizou foi o sorteio de um apartamento. Duas outras campanhas que marcaram muito foram relacionadas aos concursos de vitrine enfeitada – tanto de lojas, em que havia uma participação muito grande das empresas, quanto de fachadas residenciais”, expressa.

Foto: Arquivo Histórico/CDL

Responsável hoje por oferecer aos associados serviços de informação de crédito, cursos, seminários, treinamentos, assessoria jurídica, balcão de empregos, planos de saúde/odontológicos, o auditório e o salão social, além do guia comercial Petrópolis TEM e do serviço de comunicação de perda/roubo/extravio de documentos, a CDL, passados 60 anos, continua a amparar os lojistas da cidade e a defender seus interesses.

Com olhos no passado e no futuro, o presidente da CDL Petrópolis, o empresário Claudio Mohammed, ressalta a importância de se recorrer às experiências adquiridas ao longo do tempo para, a partir delas, consolidar, cada vez mais, princípios e valores que fazem parte da essência do trabalho desempenhado pela entidade. “Temos que retornar ao passado e buscar experiências que possam ser depositadas no futuro”, explica Claudio.

Parte da CDL desde 1993, quando exerceu o cargo de diretor de serviços, Claudio cumpre seu segundo mandato na presidência com a certeza de que é trabalhando em prol do comércio e acompanhando as transformações tecnológicas que são preservadas as necessidades do setor e a missão da entidade. “Trabalhamos para manter o crescimento das atividades comerciais e para que o público atenda os anseios do comércio da cidade”.

Passado mais de meio século, uma das certezas mantidas pela instituição é a de que, diariamente, a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Petrópolis compartilha do mesmo carinho, admiração e paixão pelo segmento que, em 4 de agosto de 1961, motivou um grupo de empresários, uma modesta sala e um único propósito a revolucionarem a forma como o comércio petropolitano é visto e recebido.

(Reportagem produzida para o especial de 60 anos da CDL Petrópolis, comemorado em 04 de agosto, de 2021)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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