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Maneco: reflexo de um negociante sem igual

A Maneco chegou a operar em dois endereços da então Avenida XV de Novembro: o primeiro, na altura do prédio dos Correios do Centro; e o segundo, no número 734 da via

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Dotado de uma versatilidade sem precedentes, foi como feirante que o empreendedor Manoel da Costa Frias Sobrinho aprendeu a arte do cálculo. O matemático também, mas principalmente aquele que diz respeito ao lucro que vem a partir da aceitação de riscos que o tornaram, aos 40 anos de idade, um dos mais respeitados comerciantes da cidade.

Filho de agricultor, ‘seu’ Manoel cresceu em Corrêas: região em que a família mantinha a produção de legumes e verduras. Atuantes em feiras da cidade, eles foram perpetuados como ‘Os Frias’. E se para muitos a ideia de sucesso está em construir um nome artístico e, às vezes, se afastar das origens, para Manoel o crescimento estava em valorizar as suas.

De feirante ele se tornou caminhoneiro, cerealista e, somente em 1969, comerciante. Foi naquele ano em que inaugurou a Frima, no Edifício Profissional. Especializada em artigos masculinos, mais do que a soma das iniciais de Frias e Manoel, a loja representou a junção de suas experiências profissionais anteriores com o dom nato para a atuação no segmento.

Nas palavras do filho, Frederico de Oliveira Frias, de 58 anos, o comércio estava no sangue do pai que, graças à feira, mais do que um vendedor, se tornou um negociante sem igual. “Ele tinha essa visão. Era capaz de entrar numa loja, bar, supermercado, e de cabeça calcular quanto o cara tinha, vendia, quanto sobrava, e pagava de empregado”.

Assim, dez anos depois de fundada a primeira loja, Manoel já era proprietário de outras duas filiais da Frima – uma em Nova Friburgo e a outra em Teresópolis – e da Maneco, que chegou a operar em dois endereços da então Avenida XV de Novembro: o primeiro, na altura do prédio dos Correios do Centro; e o segundo, no número 734 da via.

Em extremidades opostas, numa época ou outra, a Maneco jamais falhou em cumprir sua missão de se destacar. Fosse pela curiosa réplica do chafariz do ‘Manequinho’ na vitrine da primeira loja ou pelo esplendoroso prédio em que operou até fechar, a Maneco era detentora de prêmios e glamour próprios.

Foto: Arquivo pessoal Frederico de Oliveira Frias

“Quando os representantes queriam colocar um novo produto no mercado eles logo nos procuravam porque sabiam que nossa vitrine ia fazer o produto deles ser valorizado”, afirma Fred.

De Christian Dior e Yves Saint Laurent a Valentino e Pierre Cardin, a Maneco oferecia luxuosos ternos, smokings e paletós, bem como a valiosa convivência com a família Frias.

Até porque, além do senhor Manoel, estavam envolvidos no negócio seus filhos – Manoelzinho, Fred e Déria – bem como seu irmão Antônio, o Gena. Quem também recorda a mente brilhante de ‘seu’ Manoel é o arquiteto e urbanista Paulo Vasques, de 73 anos. Foi ele o responsável pelo projeto e execução da obra do prédio final da Maneco.

Na imagem, à direita, o senhor Manoel da Costa Frias Sobrinho acompanhado do filho mais velho, o Manoelzinho, seu fiel escudeiro. (Foto: Arquivo pessoal Frederico de Oliveira Frias)

À época recém-formado, coube a Paulo a desafiadora e igualmente gratificante tarefa de trabalhar em parceria com o fundador de um império no ramo dos artigos masculinos.

“Eu já havia feito outras construções, mas nenhuma tão importante quanto aquela. O Manoel era um comerciante fabuloso. Talvez o melhor da cidade no segmento”.

Fotos: Arquivo pessoal Frederico de Oliveira Frias – Google Maps

50 anos depois e com pelo menos 600 obras executadas, Paulo recorda detalhes do prédio, construído especificamente para abrigar o negócio. Com entrada recuada, o que dava destaque às vitrines, a loja de pavimento duplo contava com outros dois andares, em que funcionavam a confecção e o escritório, e um terraço.

“A ideia era montar um restaurante na cobertura, que seria administrado por ele. Deixamos tudo pronto pra isso”. Um magazin, o empreendimento traria setores diversos, mas infelizmente Manoel faleceu antes que a ideia se concretizasse, o que em nada diminuiu, contudo, a admiração do público pelo que já havia sido conquistado pelos Frias.

Quando o ex-funcionário Paulo Marchiori, de 60 anos, se juntou à firma, por exemplo, já eram os filhos do senhor Manoel que a administravam. Foram 10 anos como contribuidor da empresa, indo de vendedor ao posto de gerente. Ele fala sobre como foi conhecer de perto o estabelecimento que, durante algum tempo, apreciava, sobretudo, da calçada.

Ele menciona as liquidações em homenagem ao dia dos pais e as vivências pessoais que inevitavelmente se entrelaçaram com as profissionais: “As promoções davam fila! Me casei e tive meu filho quando já estava lá. Foram os melhores anos da minha vida. Anos de muitas amizades e experiências agradáveis”.

Acompanhada do sentimento de realização, foi a Maneco, e por que não também a Frima, resultado da imaginação aliada à técnica, da experiência atrelada ao talento, do cálculo, aceitação e, principalmente, aproveitamento dos riscos e os presentes que eles têm a lhe oferecer.

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 05/07/2020)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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