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Lanchonete Freddy: sucesso de audiência

A lanchonete era sucesso de audiência no horário nobre e também durante o dia

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A juventude petropolitana não vivia na Idade da Pedra, mas ainda assim foi capaz de identificar semelhanças entre a cidade fictícia de Bedrock e Petrópolis. Se na primeira havia Fred, dos Flintstones; na segunda pairava a expectativa de que uma lanchonete chamada Flins abrisse. Na mesma calçada existiriam, então, Freddy, Flins e Toni’s.

Trocadilhos à parte, talvez a adolescência dos anos 80 não estivesse tão errada quanto aos pontos em comum entre a série e a cidade. Retrato do cotidiano de uma família de classe média, eram o desenho e a própria lanchonete Freddy objeto de interesse de parentes e amigos que se viam representados nas produções.

Numa época em que a locação de videocassetes ainda começava a se popularizar, a garotada não tinha outra opção de distração senão os cinemas. Os principais: Petrópolis e Dom Pedro. Além do fato de concentrarem os lançamentos, era em torno deles que ficavam as melhores lanchonetes para os bate-papos pós-sessão.

A petropolitana Marcela Margiotta, de 53 anos, retransmite na memória alguns de seus episódios favoritos da temporada de 80. Estudante do Liceu, ela conta que, a exemplo do protagonista do desenho animado, o Freddy de Petrópolis era sucesso de audiência no horário nobre e também durante o dia.

Foto: Arquivo Histórico Biblioteca Municipal- Google Maps

‘Moderno’, o local concentrava, de acordo com Marcela, ‘os rapazes mais bonitos’, seus almoços de domingo em família e os aperitivos que davam sabor aos passeios que fazia com as amigas à noite. “A gente ia lá para comer pizza, sanduíche americano, dividir um milkshake ou uma banana split”.

Diante de pratos irresistíveis como o bife à parmegiana da casa, nada, contudo, se comparava à cortesia que era ficar de espectadora dos colírios que apareciam por lá. Para Marcela, as melhores mesas para se paquerar eram as localizadas no fundo do estabelecimento e de frente para um espelho fixo à parede: garantia de visão total da loja.

“Gostava porque dava para olhar em volta. Era aquela paquerada mais demorada. Aí você pedia uma porção de batata frita e ficava enrolando pra ela render e você não sair dali”.

Tudo bem que os rapazes faziam sucesso, mas as verdadeiras líderes de audiência eram as saborosas fritas do Freddy, dignas de se exclamar ‘yabba-dabba-doo!’.

Paralela à trama de Marcela está a do petropolitano Celso Souza Faria, de 54 anos. Também estudante no referido capítulo da temporada de 80, Celso, que morava no Centro, admite que chegou a sair de casa à noite – com batatas na dispensa – pelo simples prazer que era se deleitar com as servidas pela lanchonete.

Habituado a ‘dar uma volta na cidade’, Celso não demorou a descobrir a iguaria vendida em embalagens de papel da casa ou o clássico x-salada acompanhado de ‘molho especial’. “Era tradição passar lá. O atendimento era primordial e me chamaram atenção a batata e o molho do x-salada. Hoje vejo que era o rosé, mas tinha um gostinho diferente”.

Personagens nada fictícios

Por mais que semelhantes em vários aspectos, um quesito diferenciava o protagonista de Bedrock do Freddy petropolitano: este não era fictício. Existia e era retrato da autenticidade da casa. Ex-chapeiro da lanchonete, o senhor Anísio Braga Faria, de 56 anos, relembra os 15 anos em que se dedicou ao local.

“Era da chapa que saía tudo: x-calabresa, x-bacon, churrasquinho. Fiquei da inauguração até 1994. Nesse tempo os sócios eram o Teixeira e o senhor Manoel”. E como falar dos personagens nada fictícios da loja sem mencionar os adolescentes cujo hobby era pregar peças nos funcionários? Quem os recorda é o ex-garçom João Farias Esteves, de 68 anos.

Admitido ao time alguns poucos meses depois do colega Anísio, ‘seu’ João lembra dos clientes; os universitários que estudavam em Petrópolis, mas eram de outros estados; das turminhas que do Clube Petropolitano iam direto ao Freddy aos domingos e, principalmente, das pegadinhas que caracterizavam os grupos como sendo um só: de jovens.

“Eles faziam guerra de ketchup, deixavam a tampa encostada pro próximo se sujar, cancelavam o pedido de última hora. Mas eu caía na deles e brincava também”.

Sucesso de audiência, pode-se ter certeza de que, se fosse pelo público e tal qual a animação, a lanchonete Freddy teria sido renovada para várias outras temporadas.

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 17/05/2020)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

1 Comment

  1. Sanduíche Americano, um misto quente servido aberto com ovo alface e tomate e uma porção de fritas. Vaca Preta, o milk shake que ao invés de leite é feito com Coca-cola e de sobremesa, Waffle com mel. Delícias de infância!

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