Já imaginou estudar no Palácio Imperial? Porque, no passado, ele foi ocupado por escolas!

Foram eles os colégios Notre Dame de Sion e São Vicente de Paulo

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Quem hoje visita o Museu Imperial nem sequer imagina que a imponente construção já foi ocupada pelos colégios católicos Notre Dame de Sion e São Vicente de Paulo no fim do século XIX e início do século XX. Pouca gente sabe, mas os cômodos da antiga residência de verão da família real chegaram a ser adaptados para que funcionassem como dormitórios, refeitórios, salas de aula e laboratórios. Houve também uma época em que o gramado do palácio era cenário das partidas de futebol dos alunos.

De acordo com a 4ª edição do ‘Almanaque de Petrópolis’, lançado em 2015 pelo setor de Educação do Museu Imperial, após a criação da ‘Lei Geral’ que, em 1827, determinou que escolas de primeiras letras oferecessem ensinos diferenciados para meninos e meninas, famílias com boas condições financeiras passaram a enviar suas filhas para conventos em Paris para que tivessem acesso a uma metodologia mais aprimorada.

‘A lei garantia apenas os estudos elementares para as meninas, sendo que as escolas nessa época eram poucas e de baixa qualidade. Em determinado momento chega-se à conclusão de que seria mais prático e econômico trazer da França professores ou instituições francesas que se estabelecessem no Brasil para suprir as deficiências da rede pública e atender às necessidades das famílias’, aponta trecho do livreto.

E assim foi feito. Em 1889 o Colégio Notre Dame de Sion iniciou suas atividades em Petrópolis na Rua de Bragança, atual Av. Roberto Silveira, mudando-se logo depois para uma antiga residência na esquina das ruas Benjamin Constant e Silva Jardim. As alunas, normalmente internas e provenientes da Corte ou de outras partes do país, eram entregues ao educandário, onde recebiam uma extensa gama de aulas que incluía Latim, Zoologia, Mineralogia, Álgebra, Desenho, Música, Pintura, Ginástica e Prendas do Lar.

Fotos: Museu Imperial/Ibram/MinC – Bruno Avellar

Naquele mesmo ano as freiras estabelecerem contato com a princesa Isabel, já em exílio, para a ocupação do Palácio Imperial. Como descreve Lourenço Luiz Lacombe, diretor do Museu nas décadas de 70 e 80, na obra ‘Biografia de um Palácio’, apesar de, inicialmente, os cômodos terem sido usados tal como foram encontrados, com o crescimento do colégio foi necessário erguer na parte dos fundos do prédio, anexa à ladeira de acesso, uma construção maior em que foi instalada uma capela.

‘A transferência da capela foi realizada para dar espaço aos dormitórios. Assim, o quarto de dormir dos imperadores foi unido à sala de estado (de onde saíra a capela) com a demolição da parede divisória’, explica Lourenço em trecho da obra.

Fotos: Museu Imperial/Ibram/MinC – Bruno Avellar

Estima-se que elas tenham se instalado lá de 1892/1893 até 1907, quando retornaram ao antigo endereço, hoje ocupado pela Universidade Católica de Petrópolis. Contudo, não demorou muito para que o casarão recebesse novos ‘moradores’. Logo em 1909 o Colégio São Vicente de Paulo, gerenciado pelos Cônegos Premonstratenses, assume as rédeas da antiga residência do Imperador.

Considerado um dos educandários de maior prestígio no país, o colégio contava com um laboratório de Química, um gabinete de Física, um Museu de História Natural, sala de Geografia, uma horta e um parque arborizado que era usado para aulas de Ciências Naturais. Isso sem falar nas atividades físicas que incluíam natação e até mesmo instruções militares que preparavam os meninos caso precisassem defender a nação em situações de conflito armado.

Fotos: Museu Imperial/Ibram/Minc – Bruno Avellar

A instituição, que foi transferida para a Rua Coronel Veiga em 1939/1940, no edifício atualmente abrigado pelo Instituto Teológico Franciscano, formou figuras que se destacaram no cenário político, científico, artístico e militar. Prova disso foi o médico, historiador, professor, jornalista, político e advogado, Alcindo Sodré, que integrou o educandário aos 11 anos e, como relata Luiz Lacombe, ‘à noite, no dormitório, olhava curioso para os estuques do teto, com suas coroas, as siglas PII e os dragões, e sonhava em ver a casa reconstruída como no tempo do imperador’.

Os anos se passaram e o menino, por mais que tenha crescido, não deixou para trás seu sonho de ver o antigo Palácio Imperial retomar seu brilho. Em 16 de março de 1943 a edificação foi inaugurada como Museu Imperial, tendo como primeiro diretor Alcindo Sodré. Hoje referência quando o assunto é o Brasil Império, o museu remete seus visitantes ao passado em cada móvel, objeto e detalhe arquitetônico, assim como fez com o pequeno estudante.

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 01/04/2018)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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