Anúncio de Inauguração das Pernambucanas no jornal Tribuna de Petrópolis, em 1934
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Casas Pernambucanas: tecendo emoções

No inverno, a frequência de clientes aumentava: para muitos era hora de comprar flanelas e transformá-las em lindos pijamas

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Na esquina da Barão de Teffé, os percursos se emaranhavam num labirinto. Em meio a cobertores, lãs e flanelas, eram os laços reforçados na compra que aqueciam os lares e ditavam as direções. Nas Casas Pernambucanas, o cliente saía pela porta com a certeza de que, numa rede de fios, era o encontro de caminhos que fortalecia a estrutura.

“Não adianta você bater, não deixo você entrar”. Bastam os primeiros acordes do jingle começarem a tocar para que a advogada Ivete Conceição, de 54 anos, seja transportada ao passado. Imediatamente, ela se vê na sala de sua antiga casa, frente a frente com a televisão. Rodeada por oito irmãos, o clima é de descontração e diversão.

“Brincávamos muito com esse comercial porque, naquela época, nossa porta tinha aquela mesma janelinha da propaganda. Eu ia muito na loja com minhas irmãs, que costuravam. Me lembro de correr lá dentro e de fazer roupinhas de boneca com os retalhos que sobravam”.

Ivete se alegra em dizer que as Pernambucanas se destacaram, principalmente, pelo papel interpretado na vida de sua irmã mais velha, Vanda Barbosa. “Ela comprou uma reta, uma overloque, e conseguiu, ao longo de todos esses anos, pagar as próprias máquinas e contas fazendo o seu trabalho. O maior presente era vê-la costurando. Me lembro, até hoje, que ela fez minha roupa de primeira comunhão”.

Hoje aos 65 anos, Vanda conta que, desde os 15, caminha lado a lado com a profissão a que se dedica com amor absoluto. E se o primeiro passo foi dado a partir da produção de peças para a família e amigos, a missão, agora, é a venda de roupas de festa: “É uma grande jornada”, afirma.

Quem também encontrava nas Casas Pernambucanas a matéria-prima necessária para fazer uma demonstração de carinho é Angélica Maria de Oliveira Silva, de 78 anos. Segundo Angélica, a loja era, simplesmente, especial. Fã de carteirinha da rede, diz que antes de morar em Petrópolis, já frequentava a filial de Barra do Piraí.

“Eu gostava de comprar as roupas para os meus filhos, sentar na máquina, cortar, fazer. Era um prazer muito grande. Eu era apaixonada pela máquina. Com o tecido chita eu fazia vestidos bem estampados e bonitos, com bastante roda e renda. Tenho, até hoje, os retratos da minha filha com eles aqui em casa. Única menina e caçula também. A princesa”.

Fotos: Reprodução Internet -Bruno Avellar

Fios que tecem e enaltecem emoções

As mães levavam seus filhos à loja e, pouco a pouco, os pequenos o viam como um “programa de família”. Criada por um pai alfaiate e uma mãe modista, as idas de Elisabeth Pietroluongo, 60, ao estabelecimento não eram poucas. No inverno, a frequência aumentava: era hora de comprar as flanelas e transformá-las em lindos pijamas.

“Me lembro perfeitamente que minha mãe fez um pijama para mim de fundo amarelo, cheio de florzinhas. Eles duravam muito tempo, mas todo ano minha mãe fazia um diferente para a gente. Eu adorava ir nas Pernambucanas porque ali nas Lojas Americanas era servido o melhor cachorro-quente da cidade e criança não dá ponto sem nó, não é?”, questiona rindo.

Tendo se tornado modelo profissional aos 40 anos de idade, têm dúvidas quanto a origem da decisão: estaria ela relacionada à convivência com os pais, cujas mãos produziam trajes dignos de serem fotografados? Coincidência ou não, imagina como teria sido modelar quando criança.

“Fica tudo ali guardadinho no subconsciente. Queria ter sido modelo naquela época para fazer os ensaios, só que com os pijaminhas confeccionados pela minha mãe com os tecidos das Pernambucanas. Já pensou? Seria o máximo!”.

Uma jornada entre paredes

Anúncio de Inauguração das Pernambucanas no jornal Tribuna de Petrópolis, em 1934

Para a secretária Teresa Caldara, de 54 anos, as Pernambucanas foram sinônimo de amor. “Meu enxoval de casamento foi todo comprado lá pela minha tia Gilda”. Com 18 anos à época, saiu de lá com “tudo que precisava e mais um pouco”, o que inclui, entre os presentes, o apoio e carinho da família quando estava prestes a dar um grande passo.

“Nesse dia voltei para casa com o meu enxoval completo: roupa de cama, banho, itens para a cozinha, tudo. Lá havia tecidos e toda a linha para a casa. A gente comprou tudo lá. Durante muito tempo não precisei comprar mais nada. Te garanto uma coisa: o enxoval durou mais tempo que o casamento”.

Os clientes levavam para casa qualidade e, acima de tudo, a certeza de que a saída do labirinto estava na simplicidade. Entre as paredes das Casas Pernambucanas, a felicidade se dava na jornada da compra, que reforçava laços e enaltecia emoções.

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 09/12/2018)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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