Entre os limites da loja, de conflito só havia o nome! Especializada na venda de materiais de construção, elétrica e hidráulica, a Combatente provou que, mais do que enfrentar os preços dos concorrentes, para ser lembrado um negócio precisa, sobretudo, ser líder na prática da boa convivência.
Fundado pelos sócios Arístides Francisco Leal e José Alexandre Cordeiro, antes de ocupar o visado endereço ao lado da Casa Sloper o empreendimento teve início com uma ‘portinha’ na Rua Washington Luiz. Ambos ex-funcionários da Casa Roberto, pode-se dizer que foi na referida loja que a dupla estabeleceu seu marco inicial.
Caçula de nove irmãos, ‘seu’ Cordeiro se tornou órfão do pai aos 14 anos de idade e, da mãe, aos 18. Contratado como balconista pela Casa Roberto, foi lá que ascendeu ao posto de gerente, filho do senhor Roberto e parceiro de ‘seu’ Leal. Quem recorda sua jornada de crescimento profissional e pessoal é a viúva Gessilda Borzino Cordeiro, de 87 anos.
Dona Gessilda e ‘seu’ José se conheceram quando ele ainda era funcionário da Casa Roberto. Frequentadora do Clube Cruzeiro, no Morin, dona Gessilda, que já o conhecia da porta do D’Angelo, foi até a loja vender a ele um convite para um dos bailes do clube. O evento os uniu e, após um ano e meio de namoro, os dois estavam casados.
“O José era muito querido. Uma pessoa muito sincera, honesta e apaixonada. Ele ajudava muita gente e, às vezes, sem cobrar nada”.
Depois do referido baile do Cruzeiro, o casal participou de muitas festas juntos, sendo a principal delas, provavelmente, a inauguração da Combatente, em meados da década de 1950.
O sócio era o Cordeiro, mas a família também se envolvia, tanto que em 1973 dona Gessilda foi eleita a mãe lojista do ano. “A Câmara de Dirigentes Lojistas promovia uma premiação no Petropolitano, e naquele ano venci. Guardo o diploma até hoje”. E por falar em guardar, quem também preserva recordações da loja são as filhas de ‘seu’ Leal.
Três anos separam Solange Leal, de 68 anos; de sua irmã Susete Leal, de 65. Com lembranças da Combatente que às vezes se diferem por retratarem momentos muito particulares de cada uma, as memórias das duas se completam, sobretudo, quando o assunto é o carinho e a saudade que sentem do pai que delas também foi chefe.
Primeiro emprego de Susete, foi na loja que ela diz ter vivido uma escola. Escola de amizades, finanças e, principalmente, de humildade. Ainda pequena quando a Combatente foi inaugurada, Susete conta que, a exemplo de seu padrinho de batismo, o senhor José Cordeiro, foi lá que ela também cresceu como profissional e pessoa.
“Logo no início meu pai fez questão de dizer que eu era empregada como todo o resto e aquilo pra mim foi um presente. Fui aprendendo um pouquinho com cada um”. Inserida desde cedo num ambiente que lhe proporcionou estar em contato com uma extensão de sua própria família, Susete lembra da felicidade que foi colaborar com a empresa.
“O pessoal fazia futebol à noite e ia todo mundo torcer. No Natal a gente fechava a loja, forrava os balcões e comprava frango assado pra confraternizar antes de ir pra casa”. Líder na prática da boa convivência entre funcionários, foi a Combatente também exemplo no tratamento a clientes que, segundo a irmã Solange, no final do ano ganhavam prêmios.
“Os clientes mais fiéis recebiam presentes. Lembro que meu pai chegou a fazer copos de cristal com o nome da loja. E teve também a história do balão em forma de Papai Noel”.
Pelo que conta a família, eram soltos balões pela Combatente, sendo que um deles era munido de um vale-prêmio, concedido a quem quer que o encontrasse.
Lugar de bons preços e bom atendimento, era a Combatente ponto, ainda, de eletricistas. Numa época em que não existiam celulares e as despesas para se ter um telefone eram absurdas, Solange lembra que os autônomos tinham como ponto a porta da Combatente e como número de contato o telefone da loja.
“Se alguém telefonasse precisando dos serviços deles os próprios balconistas os colocavam na linha. Eles eram autônomos, mas muita gente pensava que não”. Um dos casos citados é o do bombeiro hidraulico José Luiz Pereira, de 74 anos. Ele lembra da época boa de muito serviço que viveu na ‘linha de frente’ da Combatente.
“Eu e nem ninguém tinha telefone. Era muito difícil, aí eles anotavam e passavam os serviços para a gente. A gente ia na casa do freguês e fazia”. Tendo conhecido toda a família Combatente, então liderada pelo gerente Alencar, José Luiz recorda alguns dos ex-funcionários com que fez amizade, entre eles o senhor Osvaldo Cardoso, de 69 anos.
Balconista por cinco anos da loja, ‘seu’ Osvaldo fala com nostalgia daquele que foi lar de um de seus melhores empregos e patrões. Ele destaca uma premiação interna que era promovida entre os vendedores, com base nas vendas de cada um. De acordo com Osvaldo, a liderança era normalmente ocupada pelo colega Nélio, numa disputa acirrada.
“Era pau a pau. Ele sempre com o primeiro lugar e eu o segundo. Era muito bom. Um ajudava o outro. Ocupei umas duas vezes a liderança só, que foi quando ele tirou férias”, ri.
Onde o combate se restringia o nome, a Combatente tornou evidente que, mais do que na matéria, é a partir do espírito que, realmente, se constrói.
(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 30/08/2020)
Conheci Sr. Aristides pois a loja era referência em materiais elétricos e meu tio ia muito. Quanto as filhas as conheci no Cardoso Fontes no primário anos 60. A Suzete estudou na minha sala. Em 73 no exército ia muito lá fazer compras para o Batalhão.