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Simone Modas: habitada e simbolizada pela vida

A loja fez parte de uma rede de empreendimentos fundados pela família Rabello e que incluíram, ainda, a Loja do Ney, a Piter, Giselle Jeans, Ellus, Gamella, Box 12 e Fine Star

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Foi na figura de uma criança que surgiu a inspiração da família Rabello para dar nome à loja. Tão pequena, mas tão habitada por vida, coube à menina de dois anos simbolizar a infinidade de caminhos que poderiam ser seguidos a partir da abertura do negócio que, a exemplo de Simone, já trilhava seu rumo, por mais novo que fosse.

Fotos: Arquivo Histórico Biblioteca Municipal – Google Maps

Bastou o abrir de uma porta para que um leque de possibilidades também fosse aberto aos irmãos Rudney e Emmanuel Simas Rabello. O que se conta é que, num dos dias de reforma do espaço em que operaria a loja, a dupla foi surpreendida pelo levantar da porta de aço. Acompanhada dos pais, aparecia por baixo dela a sobrinha Simone e a inspiração.

Ela apareceu e falou: oi, tio! Daí meu irmão, Rudney, respondeu: ô, Simone modas. Ele falou de brincadeira, mas eu achei bom e acabou ficando”. ‘Seu’ Emmanuel, agora com 76 anos, explica, ainda, que aquela não foi a primeira – e nem última – vez em que um dos empreendimentos em que esteve a frente foi nomeado após algum familiar.

Nascido em Pedro do Rio, ‘seu’ Emmanuel vem de família grande – em número (eram nove irmãos) e nos sonhos que carrega. Propósitos esses que começaram a ser cumpridos junto ao comércio. Da Loja do Ney – conduzida por Rudney – à inauguração da Simone Modas, em 1968, e às posteriores Piter, Giselle Jeans, Ellus, Gamella, Box 12 e Fine Star.

Inspiradas e gerenciadas pela família, as lojas deixaram transparecer sua essência tanto porta afora, nos nomes que empregou (Piter foi uma referência a Pedro Almir, sobrinho de ‘seu’ Emmanuel, e Giselle a sua filha – irmã de Marcelo e Grace); quanto adentro, onde o cliente era atendido pelos Rabello e, às vezes, pela própria Simone.

Jovem o suficiente para ter retido apenas flashes do dia em que, aos dois anos de idade, sem querer se tornou fonte de inspiração para os tios, a petropolitana Simone Rabello de Paula, de 54 anos, fez questão, contudo, de construir a história da Simone Modas junto da sua. Presente na inauguração, só esperou crescer para nela trabalhar.

“Estava lá quase todo dia. Sempre tive muito orgulho de contar a origem do nome da loja. É aquele sentimento de família unida, amor”. 

A pequena Simone no dia da inauguração da loja. (Foto: Arquivo pessoal Emmanuel Rabello)

União comprovada, aliás, pelo esforço coletivo dos sócios Rudney, Emmanuel, Juliette, Rogerio, Rudnei e Pedro Almir – todos Rabello, de colaboradores como Suely – esposa do senhor Emmanuel, e do corpo de funcionários. 

Por mais que oferecesse um vasto leque de mercadorias masculinas, femininas, calçados, e itens de cama e mesa, após alguns poucos minutos de conversa se torna evidente que foi na figura de pessoas como Teresinha Fernandes Borsatto, de 91 anos, que a Simone Modas marcou quem com ela contribuiu, em qualquer que fosse o lado do balcão.

Teresinha havia perdido seu filho único. ‘Sem vontade nem mesmo pra viver’, ela conta que recusou o convite de trabalhar na loja por, pelo menos, 3 vezes. Tinha medo de não saber mais conversar e se vestir até que, um dia, cedeu e jamais se arrependeu.

“Foi através de uma tristeza grande e amor deles pela minha vida que temos um grande laço de amizade”.

Descrita por ela como ‘uma benção’, a oportunidade dada pela família de seu marido foi, na verdade, a chance de se reinventar e, aos quase 50 anos, aprender. Aprender sobre a vida, sobre vendas e vitrines. Foram 25 anos como funcionária da família divididos em temporadas na Simone, Giselle, Piter e Gamella.

Entre turnos e ensinamentos

Fossem os proprietários já conhecidos ou não do funcionário, o fato é que, durante sua passagem pela loja, como tramas de tecidos, a história do empregado passava a se entrelaçar com a do estabelecimento e dos donos. Tanto que são raros os casos de pessoas que colaboraram com a Simone Modas por poucos anos.

Rosemeri de Souza Silva, de 58 anos, por exemplo, teve no empreendimento seu primeiro emprego, aos 15 anos de idade. Ela conta que deu início a sua jornada na Simone como vendedora, mas que, passado um tempo, passou a operar na área administrativa. Controlava o estoque, as contas a pagar, o livro diário, o crediário.

Tanto gostou de seus 18 anos como colaboradora da loja que, depois que ela foi fechada, se dedicou ao Sicomércio por 21 anos como secretária executiva. Ainda sobre a rotina de trabalho, ela recorda o sucesso dos crediários.

“Como podia parcelar em 12x, tinha cliente que pedia até táxi, de tanta coisa que era”. 

Escola em que, mais do que com palavras, se aprendia com o comportamento dos frequentadores da loja, foi na Simone e, sobretudo, na figura do senhor Emmanuel, que a ex-funcionária Diomar Carneiro Oliveira, de 69 anos, aprendeu, como Teresinha, sobre a vida. “Ele foi um pai, professor, amigo e conselheiro pra mim”.

Colaboradora dos Rabello por 22 anos – 12 somente na Simone, Diomar conta como, mais do que, aos poucos, subir de ocupação, ela foi elevada ao posto de família. “Minha filha nasceu no mesmo ano da Giselle, filha do senhor Emmanuel. Ele e a esposa foram os primeiros a me visitar quando ganhei minha menina. Foi uma emoção muito grande”.

Afortunada pela pequena Simone, foi na figura da criança que a Simone Modas se inspirou para pregar que, independente do turno em que se viva, é sempre tempo para se reinventar enquanto se é habitado por vida.

Na imagem, Rudney (à esquerda) e Emmanuel (à direita) abraçados com o pai, Antonio Rabello. Prova da união da família nos negócios e fora deles. Foto: Arquivo pessoal Emmanuel Rabello

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 26/04/2020)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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