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Confira as histórias envolvendo a construção e consolidação do Palácio de Cristal

Sede da primeira exposição hortícola de Petrópolis, o Palácio faz jus ao título de sede do orquidário mais antigo do país

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Com direito a medalhas comemorativas e a concursos de flores, plantas, hortaliças e pássaros, a primeira Exposição Hortícola de Petrópolis, e pioneira no Brasil, aconteceu no dia 02 de fevereiro de 1875, em pequenos pavilhões onde hoje está o Palácio de Cristal. Mais de um século depois, a imponente construção de ferro preserva sua essência: recebe anualmente feiras de orquídeas e bromélias que reúnem de 15 a 20 mil pessoas na Cidade Imperial; sede, inclusive, do orquidário mais antigo do país.

A idealização do espaço começa com o Major Koeler que, ao traçar a planta de Petrópolis, idealiza na confluência dos rios Piabanha e Quitandinha, um espaço para lazer público. A chamada Praça da Confluência, ou Koblenz para os alemães, recebe em 1857 pelo Chefe da Colônia cercas de madeira e as primeiras árvores que constituiriam seu jardim.

O local, denominado ao longo dos anos de Campo de Santana, Passeio Público, Praça Calógeras e Praça Moreno, só vem a receber o Palácio de Cristal em 1884, a pedido do até então presidente da Sociedade Agrícola de Petrópolis, Conde D’Eu, que buscava um local para melhor abrigar as exposições que ali tinham se tornado constantes.

Como aponta a ex-presidente do Instituto Histórico de Petrópolis, Ruth Judice, em seu livro ‘Palácio de Cristal’, o sucesso da primeira edição da feira, realizada em 1875, era inegável. Além de ter reunido grandes produtores, possibilitou a venda de objetos com fins beneficentes. Na época, o grande destaque foi para o padre João Francisco Siqueira de Andrade, que arrecadou 8000$000 em prol da Escola Nossa Senhora do Amparo.

 

Medalha comemorativa da VI Exposição Hortícola e Agrícola de Petrópolis. Foto: Museu Imperial/Ibram/MinC

Naquele ano, o vencedor da medalha de ouro foi o paisagista Jean Baptiste Binot, cujos serviços prestados à Família Real lhe renderam uma propriedade no Retiro, ainda ocupada pela família. Hoje, o Museu possui uma série de 38 medalhas cunhadas na Casa da Moeda da Corte, à custa de D. Pedro II, referentes às seis exposições hortícolas e agrícolas realizadas no Império nos anos de 1875, 1876, 1877, 1884, 1885 e 1886.

A estrutura do Palácio ao longo dos anos

Considerada uma das primeiras construções pré-fabricadas a ser instalada no Brasil, a estrutura teve como inspiração o ‘Crystal Palace’, construído para a exposição de Londres de 1851, e que foi incendiado em 1936. O pavilhão foi elaborado nas oficinas de St. Sauver-les-Arras, na França, e inaugurado em 1884 com um grande baile que contou com a presença da Corte Brasileira.

De acordo com Ruth Judice, o Palácio de Cristal é uma arquitetura representativa dos primórdios do uso das máquinas, algo hoje batizado como ‘Arquitetura de Ferro’. ‘Na época, o ferro na construção era visto apenas como solução técninca. Leigos, arquitetos e críticos, não se davam conta que o ferro com sua força já criara uma arquitetura independente, liberando formas, criando colunas delgadas, que já não precisavam ser clássicas, mas que possuíam elegância e plasticidade’, diz ela em trecho do livro.

Fotos: Museu Imperial/Ibram/MinC – Serra Drone

134 anos depois da inauguração do Palácio, vê-se que as principais mudanças aconteceram no pórtico de entrada, que tornava o conjunto ainda mais imponente e harmônico, quando coberto por uma abóboda semelhante à do palacete. Não há registros de quando ele foi demolido, mas estima-se que tenha sido entre 1938 e 1940, época em que também foi retirado o antigo gradeamento.

Além dos panos de cristal que preenchiam as molduras de ferro e que foram hoje substituídos por vidros, nota-se que a cruz que antes ficava à frente do pavilhão, é localizada agora ao lado esquerdo de quem chega. O monumento foi instalado em 29 de junho de 1846 durante uma missa que comemorava o primeiro aniversário da chegada dos alemães a Petrópolis.

Um empreendimento que ultrapassa gerações

Você certamente já ouviu falar no Orquidário Binot, só talvez não conheça sua história. O paisagista Jean Baptiste Binot, que aqui se estabeleceu em 1845 como jardineiro-horticultor, recebeu do Imperador Dom Pedro II terras no Retiro, após projetar e executar os jardins do Palácio Imperial de Verão, hoje Museu Imperial. E não é à toa que dizem que filho de peixe, peixinho é. Pedro Maria Binot, filho do europeu, estudou horticultura na Bélgica e, em 1870, deu início ao cultivo e à exportação de orquídeas e plantas tropicais. Desde então, a tradição e o carinho em se trabalhar no ramo tem sido transmitido de geração em geração.

Hoje, quem está à frente do negócio é o engenheiro agrônomo Maurício Ferreira Verboonen, quinta geração da família que está há 148 anos envolvida nas atividades. Ele, que desde os 19 anos esteve atuando no Orquidário, deu um novo impulso ao empreendimento ao remodelar as instalações e adotar novos conceitos de irrigação e pesquisa.

Maurício aos 28 anos e, na segunda imagem, 30 anos depois, ainda atuante no Orquidário. Fotos: Arquivo pessoal Maurício Ferreira Verboonen – Bruno Avellar

Maurício explica que uma das estruturas mais antigas na história do estabelecimento é um galpão de madeira que costumava ser usado para secar sementes.

‘Toda a madeira usada naquele galpão foi retirada dessa propriedade. Nele há peças únicas com 14 metros de comprimento que sustentam o telhado, algo que você não encontra em nenhuma outra região de Petrópolis. Ele possuía uma estrutura que tornava possível que o ar circulasse e secasse as sementes’, conta o engenheiro.

Além disso, a construção também era usada na elevação e movimentação de cargas pesadas. ‘Havia um sistema de roldanas em que era possível deslocar até duzentos e cinquenta quilos para que uma tração animal, burro ou cavalo, levasse a carga até a estação ferroviária’, revela  Maurício.

A dedicação e o carinho de Maurício pelo empreendimento se manifestam em cada curiosidade e lembrança sobre a história do local que conhece como ninguém. Principalmente em um negócio como o dele em que as flores levam até cinco anos para florir, é essencial que haja amor pelo que se faz, e isso ele tem de sobra. O estabelecimento, localizado na Rua Fernandes Vieira, número 390, é aberto ao público e recebe, anualmente, cerca de cinco mil pessoas.

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 25/03/2018)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

3 Comments

  1. Parabéns pela ideia do blog e pela execução impecável! O leitor é levado a viajar pelo passado e trazido ao presente como se estivesse num túnel do tempo! Os textos fluem e as fotos revelam! E eu fiquei encantada! Obrigada

    • Muito obrigada por acolher a ideia de forma tão calorosa! Fico muito feliz em saber que o projeto, fruto de tanto trabalho, tem recebido uma resposta tão positiva. Até a próxima viagem! Ou melhor, postagem!

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