Com uma fachada marcada por colunas trabalhadas, o antigo prédio da Biblioteca Municipal de Petrópolis era assim: um templo do conhecimento. Localizado na atual Rua da Imperatriz, o espaço funcionou até 1974, sendo, anos depois, demolido para dar lugar ao Centro de Cultura. O edifício recebeu ilustres visitantes como o escritor Stefan Zweig e estrangeiros no cenário pós-guerra que, assim como ele, encontraram, nas palavras, refúgio.
‘É impossível entrar na biblioteca e sair da mesma forma. Alguma coisa há de ser acrescentada em você’. Assim descreve a pedagoga Leonor Fernandes, última funcionária a ser admitida na antiga casa. ‘Imagina uma menina de 16 anos que começa a trabalhar e tem acesso a um número de informações extraordinário. Eu fiquei maravilhada, me apaixonei e trabalhei como bibliotecária por 41 anos’, diz Leonor.
Contratada em abril de 1974, ela desfrutou da instalação por apenas alguns meses levando em consideração que no mesmo ano o estabelecimento precisou ser desocupado.
‘Já estava em andamento o projeto de construção do Centro de Cultura. Naquele ano ainda não havia essa ideia preservacionista que temos hoje e que proíbe a demolição de determinadas construções. Foi, então, demolida a casa que abrigava a biblioteca e outra edificação localizada ao lado, pertencente à Guarda Municipal’, explica ela.
Décadas se passaram, e Leonor ainda guarda memórias do espaço em que, curiosamente, sua mãe também trabalhou como bibliotecária.
‘A casa tinha um pé direito altíssimo então o acesso aos livros das últimas prateleiras só se dava a partir de uma escada imensa. À direita de quem chegava havia um jogo de estofados vermelho em que as pessoas podiam, confortavelmente, se sentar e ler o jornal. Recebíamos muito material internacional como a revista Stern, famosa na Alemanha, por exemplo, e revistas francesas porque tínhamos um público de estrangeiros, inclusive idosos que tinham fugido da guerra e vindo para o Brasil’, relembra ela.
Criada logo após a elevação de Petrópolis à categoria de cidade, a biblioteca originalmente funcionava em uma das dependências da Câmara Municipal que, por anos, não teve sede própria.
Além disso, de 1974 a 1977, operou na Casa Cláudio de Souza enquanto o Centro de Cultura, antes nomeado Alceu Amoroso Lima em homenagem ao escritor que aqui residiu, não era inaugurado. Moderno, o prédio destoava do estilo arquitetônico presente nas construções ao redor como o Palácio Amarelo e o próprio Museu Imperial, o que fez com que a obra dividisse opiniões.
O projeto original sofreu modificações e não saiu do papel como inicialmente planejado. Uma das mudanças foi um auditório para 500 pessoas, que acabou não sendo construído.
‘Aquela escada, à direita de quem entra no Centro de Cultura, foi construída porque daria acesso ao anfiteatro. Onde hoje temos a cozinha era, na verdade, o banheiro e, do lado oposto, havia sido idealizada a área para a bomboniere, a charutaria e a revistaria’, revela Leonor, que acompanhou de perto as obras.
Fotos: Arquivo Histórico Biblioteca Municipal
Hoje considerada a terceira maior do Estado, a Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral conta com cerca de 150 mil volumes. Para a gerente Maria Luísa Rocha Melo, no ‘Livro das Assinaturas dos Visitantes Ilustres’ constam passagens de pensadores, escritores e ensaístas consagrados, como Hermes Lima, Afrânio Peixoto, Carolina Nabuco e Alceu Amoroso Lima.
‘Stefan Zweig, morando em Petrópolis, entregou à Biblioteca sua última coleção de livros, alguns deles com grifos e anotações, o que torna o acervo único e de extrema importância aos especialistas internacionais que por aqui passam para embasarem suas pesquisas. Há registros também dos embaixadores e cônsules do Chile, que aqui vieram atraídos pela homenagem que a Biblioteca presta à Gabriela Mistral, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, que também morou em Petrópolis e hoje dá nome a esta instituição: Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral’.
(Matéria publicada no Jornal Tribuna de Petrópolis em 06/05/2018)
Paeabens Carolina! Muuto bonita sua materua!
[…] a semana no Quartel numa rotina que, não fosse pelo Penafiel, se limitaria às suas idas à Biblioteca Municipal e ao Ginásio Estadual Washington […]