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Farmácia Petrópolis: para viagem, o valor da união

Relembre a atuação do 'seu' Joca no comércio petropolitano

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“Você escolhe e nós embrulhamos”. Já faz tempo que a tinta cobriu os dizeres que davam as boas vindas aos clientes. Lido bem abaixo de ‘Farmácia Petrópolis’, o slogan se tornou parte da identidade da família do senhor João Lopes de Carvalho Sobrinho. Foi o ‘seu’ Joca quem escolheu Petrópolis como morada e embrulhou para viagem o valor da união.

Fotos: Arquivo pessoal Paulo Roberto Sattler/Google Maps

Natural de Paty do Alferes, ‘seu’ João se mostrou empreendedor do início ao fim de sua jornada no comércio. Teve armazém, padaria e foi quem, inclusive, montou o primeiro cinema de sua cidade natal. De acordo com a filha, Sônia de Carvalho Sattler, de 70 anos, além de ‘um homem de visão’, o pai também foi caracterizado por seu apreço pela família.

“Chegou um período em que nós, filhos, precisávamos ter uma educação melhor do que a cidade oferecia. Ou viríamos internos ou nos mudaríamos, aí meu pai falou: vamos todos”. E assim foi feito. A família se mudou para Petrópolis e, na cidade, foi incentivada por um tio de Sônia – o senhor Capella, fundador da Farmácia Modelo – a inaugurar a própria loja.

“Foi um negócio que envolveu a família toda. Final de ano ajudávamos todos. Foi o ensinamento que meu pai deixou sobre união e que vai sendo passado pelas gerações”.

Onde seu marido Paulo Roberto Sattler, de 70 anos, não apenas colaborou, mas também comandou, a Farmácia Petrópolis foi prova de que família, às vezes, é a que se escolhe.

‘Paulinho’, como é mais conhecido, não demorou a se tornar braço direito de ‘seu’ Joca. Funcionário de outras farmácias desde os 14, foi na Petrópolis, contudo, que mais até do que “embrulhar remédio”, Paulinho embrulhou para viagem valores ensinados pelo sogro, a começar pela proximidade com os clientes que, no fim do dia, viravam amigos.

“Antigamente existia uma aproximação grande entre o dono da farmácia e os fregueses porque ele era como um consultor. As pessoas se aproximavam de mim. Trocavam ideia”. À frente da farmácia até meados dos anos 90, Paulo recorda as passagens mais marcantes da loja, como seu centenário, em 1992, e a participação dos filhos no negócio.

Paulinho, a esposa Sônia, e os filhos Ana Cristina e Junior. Foto: Arquivo pessoal Paulo Roberto Sattler

“Minha esposa trabalhou com a gente e meus filhos também. De carteira assinada! Quando se tem um lar bem construído, todos brigam pelo mesmo pedaço de pão. É mais gostoso”. Comungando juntos, como bem descreve Paulinho, foi assim que Ana Cristina Sattler, de 47 anos, e Paulo Roberto Sattler Junior, de 44, pegaram no batente junto dos pais.

Para Ana, as melhores lembranças do empreendimento no qual cresceu têm o Natal como pano de fundo. Era nessa época que a loja se tornava ponto de encontro do avô com os filhos e netos. “Sempre foi todo mundo muito unido. Acho que a receita é essa: o amor. Fomos criados assim, com a família toda unida”. 

Funcionária da farmácia na adolescência, Ana Cristina se formou professora e atuou no magistério por anos a fio, mas como o bom filho à casa retorna, ela também voltou a trabalhar junto do pai. Dessa vez na Via Verde: loja de produtos naturais fundada por ele em que também atua Junior, irmão de Ana.

Foi na Farmácia Petrópolis que Paulo Roberto Sattler Junior, o Junior, deu início à vida de comerciante. Aos 16 ele já “estava de jaleco e com a barriga no balcão”. Chegou a trabalhar fora, no setor financeiro, mas tal qual a irmã não resistiu e acabou retornando. Já são 20 anos ao lado do pai na empresa.

“Herdei do meu avô essa veia de comerciante e de diversificar o negócio. Eu e meu pai já tivemos restaurante, fomos pro ramo natural. Tivemos várias experiências, assim como meu avô”. Onde a vontade de vencer foi o principal elo entre ‘seu’ Joca e Paulinho, a Farmácia Petrópolis embrulhou, sobretudo, a dedicação ao trabalho.

Admitido por ‘seu’ Joca, o ex-balconista Alvarim Cândido Vieira, de 64 anos, traz viva na memória a imagem de “um homem de poucas palavras e personalidade forte” que fez da experiência uma “época de aprendizado e amizades agradáveis”. Legado esse o deixado pela Farmácia Petrópolis: capaz de embrulhar para presente e viagem.

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 04/10/2019)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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