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Petropolitanos habitam comunidades virtuais de valorização da cidade

É o caso dos grupos “Petrópolis e sua história”, “Amigos de Petrópolis” e “Flashback Petrópolis Anos 70, 80, 90 e 2000”: todos eles hospedados no Facebook

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178 anos de fundação, mais de 283 mil habitantes e quase dois séculos de uma trajetória que se desdobra em tantas outras histórias escritas por cada um que por Petrópolis passa. São memórias doces e nostálgicas que anseiam por serem contadas seja nas páginas de um livro, jornal, revista ou, por que não, em comunidades virtuais, como é o caso dos grupos “Petrópolis e sua história”, “Amigos de Petrópolis” e “Flashback Petrópolis Anos 70, 80, 90 e 2000”; todos eles hospedados no Facebook.

Somados, os três referidos grupos ultrapassam os 74 mil membros. Criados, respectivamente, em 2013, 2014 e 2020, eles são caracterizados pelo compartilhamento diário de imagens, documentos, saudosas lembranças e pitorescas passagens dos internautas por Petrópolis. Onde as únicas restrições dizem respeito à postagem de conteúdos de teor político, publicitário ou ofensivo, os ambientes criam comunidades habitadas por verdadeiros apaixonados pela cidade.

Foto: Alexandre Carius

Apoiador e administrador do grupo “Petrópolis e sua história” desde a sua criação, por iniciativa do historiador Frederico Haack, o advogado petropolitano Eduardo Dunley, de 55 anos, reflete sobre os efeitos provocados pelo grupo que, ainda que ambientado no meio virtual, tem gerado transformações que transcendem as fronteiras do online. Segundo ele, mais do que despertar curiosidade a respeito da história da cidade, o grupo promove a valorização e o cuidado por Petrópolis.

“Cada integrante do grupo forma um mosaico de uma história maior em que o que nos move é o nosso amor pela cidade. Petrópolis só vai tomar um caminho bacana quando as pessoas passarem a compreendê-la e a amá-la, e é esse sentimento que pretendemos despertar na população. A gente quer que o petropolitano aprenda a valorizar a cidade e a se sensibilizar com ela. Só assim passaremos a ter mudanças na política por parte de pessoas que, realmente, se interessam por Petrópolis”, aponta.

Capaz de gerar a sensação de pertencimento entre os membros, os grupos promovem também o reencontro entre amigos e familiares afastados pelo tempo. É o que comenta, com satisfação, o petropolitano Hélio Azevedo de Castro, de 74 anos. Idealizador da página “Amigos de Petrópolis”, ele explica que, na verdade, era esse o seu objetivo inicial: o de se manter em contato com colegas que, como ele, haviam se mudado de Petrópolis. O que ele não esperava é que, de amigo em amigo, a rede alcançasse mais de 16 mil membros.

“Desde 1973 vivo no Paraná e, em 2014, tive a ideia de reunir num grupo amigos meus que fossem petropolitanos, mas que não morassem mais na cidade. E foi aí que a coisa começou a crescer. Cada amigo meu convidou mais outros dois amigos a entrarem no grupo e aí esses dois amigos convidaram mais cinco cada um, e assim por diante. Mas a melhor coisa que eu fiz na criação do grupo foi isso: promover o reencontro de pessoas, amigos e parentes. É o que mais me dá alegria”, afirma Hélio.

Nas imagens, os primeiros Amigos de Petrópolis: Sergio Gostkorzewicz, Hélio Azevedo de Castro e Paulo Guedes. Fotos: Divulgação

Com membros residentes em mais de 10 países, o grupo tornou-se sinônimo dos amigos que Petrópolis uniu no passado e reúne no presente, já que desde 2017 Hélio promove, anualmente, um encontro presencial dos integrantes. Convidados a levarem a experiência do pertencimento para além das telas, os almoços já são, praticamente, tradição, já que dois anos depois de realizado o primeiro, com apenas 12 pessoas, foram mais de 200 participantes confirmados e registrados em 2019. 

“Saber que temos petropolitanos morando no mundo inteiro é a coisa mais linda do mundo. Isso enriqueceu muito o grupo, que continua a crescer. Diariamente recebo pelo menos 12 solicitações de pessoas interessadas em fazer parte dele. Nunca me passou pela cabeça que o grupo fosse evoluir a esse ponto”.

Da mesma forma, pode-se dizer que durante a pandemia os internautas petropolitanos viveram um intenso movimento de exaltação do passado por meio do grupo “Flashback Petrópolis Anos 70, 80, 90 e 2000”.

Criada pelo DJ petropolitano Carlinhos Tardioli, de 49 anos, em maio de 2020, a página atingiu a marca de 30 mil participantes em apenas dois meses. Pensada, inicialmente, como forma alternativa de divulgar seu próprio trabalho por meio de transmissões ao vivo musicais durante o isolamento social, o grupo tomou outros rumos e, rapidamente, se tornou válvula de escape para quem nele encontrou, no ato de recordar, o combustível necessário para se reencontrar em meio a um momento de introspecção.

Fotos: Alexandre Carius

“Às vezes a gente esquece de valorizar aquilo que já viveu, e nesse momento de carência da pandemia as pessoas acabaram se identificando com as lembranças que eram postadas no grupo e aderindo a ele. Lembrar faz muito bem. São aspectos do dia a dia, como os filmes no Cinema Petrópolis e os lanches no Toni’s que a gente viveu, mas esqueceu, e o grupo veio trazer isso de volta. Foi através das postagens que as pessoas perceberam o tanto de boas lembranças que têm da infância e da vida em Petrópolis”, descreve Carlinhos.

Comovente e intenso, o movimento do Flashback foi capaz de trazer de volta à cidade, ainda que virtualmente, aqueles que há tempos não a visitavam; fez fortalecer o carinho e o elo de milhares com o município; e foi prova de que, em meio a gloriosas tradições, a mais bela delas, por sua vez, seja o de desdobrar uma única história em tantas outras.

(Reportagem produzida para a revista de aniversário da cidade emitida pelo jornal Tribuna de Petrópolis em 16/03/2021)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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