O resultado da equação estava vinculado à paixão incondicional pelo que estava prestes a ser criado, constante que excedia qualquer variável a que o negócio recém-fundado pudesse estar sujeito. Antes que se dessem conta, os proprietários viram as cadeiras do restaurante serem multiplicadas e o Chaillot transformado naquilo que mais reverberavam: fruto de experiências que amadurecem e manifestam sorrisos.
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Por trás da fórmula de sucesso do empreendimento estavam Lucia Helena Mutzenbecher, a ‘Celeh’, e o então marido Caio Mário Gatti Dias Lima, apelidado de ‘Marito’. Ela explica que a proposta inicial dos dois era abrir uma loja de alimentos, mas que foi questão de tempo até que o negócio virasse restaurante e tomasse a casa por inteiro.
“Abrimos o Chaillot com cinco mesinhas na parte térrea da casa. Nós todos éramos autodidatas, inclusive a cozinheira, que tinha sido minha babá. Naquela época, Petrópolis oferecia ótimos produtos, o que nos ajudava no resultado final. Posteriormente fizemos um bar a fim de oferecer mais conforto aos clientes que esperavam por suas reservas”.
E, de fato, não havia o que reclamar sobre o conforto e a qualidade oferecidos. A enfermeira Teresa Cristina de Barros Barreto, de 55 anos, relembra suas idas ao Chaillot junto da família e um drink de morango que, segundo ela, era ‘dos deuses’. Acompanhado de biscoitos de queijo e cebola que, ainda de acordo com Teresa derretiam na boca, a sensação era divina.
“Era uma delícia de lugar e um conceito novo para os anos 70, onde os próprios donos recebiam os clientes e a culinária era francesa. O curioso de lá é que meu pai deixava eu e meus irmãos bebermos os drinks. Eu os adorava, então uma vez pedi um cardápio, que detalhava do que era feita cada bebida, e me arriscava a fazer em casa depois”.
Sugestões do chef
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Amiga de Lucia Helena e Caio, a fonoaudióloga Agar Stellita Vieira, de 64 anos, guarda na memória o paladar de algumas das especiarias que eram preparadas por ‘Marito’, figura que não media esforços quando o assunto envolvia sua grande paixão: a gastronomia.
“Segunda-feira o restaurante era fechado e a gente fazia cozinha experimental. O negócio dele era a adaptação das receitas e os molhos. Ele trazia os pratos para o nosso tempero e paladar. Lembro também que ele saía de Petrópolis de kombi com a dona Maroca, mãe dele, e ia para a Argentina comprar trufa branca para fazer um molho de filé mignon”.
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Segundo Agar, os cariocas eram os principais responsáveis por esgotar as reservas do Chaillot nos finais de semana. E, assim como ela, quem acompanhava de perto a movimentação do estabelecimento é a professora Ildikó Bodroghy, que assumiu o posto de gerente do restaurante por dois anos.
“O pessoal subia a Serra para jantar no Chaillot, então tinha que ser muito bem atendido. Me lembro que o Jô Soares costumava ficar sentado com seus óculos vermelhos na varandinha do restaurante e, quando havia engarrafamento, os ônibus paravam bem em frente. As pessoas olhavam pra ele e ele acenava, jogava beijinho”.
Apreciadora de pratos bem elaborados, Ildikó revela, com orgulho, que algumas receitas perpetuadas por sua família chegaram a integrar o cardápio do estabelecimento e até hoje são comentadas, como o camarão à mediterrânea.
“Tínhamos um cliente que, todo ano, mandava preparar, no Chaillot, sua ceia de Natal e Ano Novo. Ele não comia carne, então ensinei ao Caio essa receita de camarão. Fez o maior sucesso e ele acabou introduzindo no cardápio. Primeiro o chamamos de camarão ao leite de coco, mas aí ninguém pediu. Foi só quando o apelidamos de camarão a mediterrânea, que fez sucesso”, conta rindo.
Amor à primeira garfada
No Chaillot, as refeições eram regadas por emoção. Prova disso é a aposentada Lúcia Abdenur, de 66 anos, que jamais se esqueceu de uma sobremesa que muito se assemelhava a um doce que comeu na Itália, o Montblanc.
“Eles faziam tudo, inclusive o sorvete. Essa sobremesa é a melhor do mundo! Era o sorvete de creme e, dentro dele, um marrom glacê. Ficava numa taça de cristal, me lembro que era bem alinhado. Em cima do sorvete vinham fios de ovos e a calda de chocolate”.
Como Lúcia, a aposentada Scheila Waruar Lobo, de 70 anos, também teve o paladar marcado pelo estabelecimento. “Tenho na memória o steak au poivre, filé entranhado com uma pimentinha que era servido lá. Fui várias vezes com meu marido, que adorava a culinária francesa e ficou entusiasmado quando o restaurante foi inaugurado”.
La folle de Chaillot
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O encantamento pelo Chaillot começava pelo acolhedor chalé, a que todos se referem com nostalgia. ‘Uma graça’, a casa pertencia à avó do designer gráfico e heraldista Renato Moreira Gomes, responsável, inclusive, pela arte-final da logomarca do restaurante e do brasão da família Gatti que estampou os pratos e louças.
“A pedido de minha mãe, o procurei para tratar da renovação do contrato de locação. Sabendo ele que eu era Designer Gráfico e Heraldista, encomendou esses trabalhos. Agora é realmente gratificante lembrar disso”.
Resistente ao tempo, o sucesso do Chaillot foi fruto das experiências que o compuseram, da coragem dos proprietários e da qualidade do serviço prestado. Lucia Helena conta que até hoje tem dificuldades em encontrar a resposta para um cliente que, certa vez, a perguntou se criar o Chaillot havia sido a “folie”, loucura, ou se era ela a “folle”, a louca.
O questionamento, que faz referência à obra ‘La folle de Chaillot’, traz consigo a lição de que, às vezes, o tempero da vida exige uma dose de loucura.
(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 14/10/2018)
Muito bom lembrar do challot..bons tempos…e quantasvezes eles cozinhando na nossa casa na rua D. PEDRO…QUANTAS LEMBRANCAS