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Armazém Pompim: o rei dos ovos

Religiosamente, às quartas, eram reabastecidas 1.800 dúzias

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Mal capaz de assinar o próprio nome, o senhor Antônio Kneipp Filho foi contra as probabilidades. Se dedicou ao estudo da tabuada para bem administrar o armazém Pompim, no Alto da Serra, e, a exemplo do que acontecia com os ovos que vendia, entendeu que é quando a força é projetada de dentro para fora que a vida começa.

Fotos: Google Maps (2013) – Google Maps (2017)

Administrada e fundada em família, a mercearia remete ao ano de 1983, quando Adão Hansen, cunhado de Antônio, propôs que montassem o negócio. Antônio, que até então tingia roupas numa lavanderia que mantinha em casa, o gerenciaria e Adão contribuiria com a experiência que adquirira no comércio.

Passado pouco tempo, contudo, conta o neto de Antônio, Adriano Kneipp, de 51 anos, que Adão precisou se mudar para São José do Vale do Rio Preto e seu avô, por sua vez, assumir o empreendimento. Notícia que, ao invés de o desestabilizar ou assustar, o fortaleceu e o muniu de força suficiente para evitar que sua casca se rompesse.

E assim o patriarca aprendeu que, dependendo de como a força é aplicada e distribuída, pode assumir o efeito contrário ao esperado – como quando se tenta quebrar um ovo por suas extremidades. “Meu avô saía do Olavo Bilac, onde morava, e ia a pé pro Alto da Serra. Mal sabia assinar o próprio nome, mas estudou tabuada para fazer as contas e cresceu”.

Resultado do forte vínculo entre moléculas, a resistente casca se tornou comprovação de que não há nada que dificulte mais uma ruptura do que a união – qualidade que diferenciava o negócio da família Kneipp dos demais. Enquanto, já na década de 90, eram Adriano e o pai, Célio, os responsáveis pela loja; era o tio Olavo quem fornecia os famosos ovos.

“Ele tinha uma granja em São José e os ovos de lá eram selecionados, graúdos. Toda quarta meu pai buscava 1.800 dúzias de kombi”.

Distintos e às vezes com duas gemas, renderam ao armazém o título de Rei dos Ovos por doceiras e donas de casa que exigiam o selo Pompim de qualidade.

Adriano Kneipp ao lado do pai, Célio. Foto: arquivo pessoal Adriano Kneipp

Moradora do Alto da Serra por ao menos 30 anos, Fátima Janayna, de 40, se diverte ao lembrar das vezes em que, quando pequena e com preguiça de andar até o referido estabelecimento, optava pelos ovos da concorrência, mas tinha sempre seu segredo desvendado pela mãe: “quando eu a enganava, pronto! Ela sabia”.

Ainda que sem selo propriamente dito, a matriarca achava um jeito de comprovar se os ovos eram ou não do Pompim. Ah, e diz Fátima que a ordem recebida por ela era de sempre pedir que fossem embrulhados na hora. “Não podíamos aceitar o ovo já embrulhado porque sempre que isso acontecia vinha um rachado”.

Inabalável e sem riscos de rompimento, contudo, foi o modelo de negócio adotado pelo armazém. Dos tempos do avô de Adriano, o Pompim tinha as mercadorias expostas atrás do balcão – assim somente os funcionários tinham acesso a elas, e o atendimento centralizado na figura dos Kneipp, que juntos iam e vinham de kombi ao trabalho.

Como Fátima, Sandra Regina Hansel Martins, que há duas décadas mora no Alto da Serra, conta como foi criar o hábito de comprar com a turma do Pompim e, com isso, valorizar e explorar o comércio local.

“O preço era acessível e me lembro deles conferirem as contas várias vezes, passando de mão em mão, até chegar no caixa”.

Às vezes meses sem ir ao Centro – de tão fiel que se tornou ao comércio da região, a petropolitana de 49 anos ressalta o carinho com que eram recebidos os clientes: da simpatia do barbante nas embalagens de ovo à calma com que eram tratados mesmo aos domingos: dia de maior movimento em que “dava até fila pra ser atendido”.

Onde seu avô, pai, tio, mãe, irmã, esposa, filhos e sobrinho, além dele próprio, chegaram a trabalhar, o Pompim se tornou, para Adriano e para quem o armazém chegou a conhecer, rei dos ovos e das comprovações científicas de que é do interior que vem a verdadeira força.

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 19/01/2020)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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