Foi numa pizzaria de esquina da Mosela que o freguês descobriu o tamanho de sua fome. Fora do tido como avançado, as curvas da massa foram remodeladas. Quadradas, passaram, então, a ser comercializadas a metro. Sem margem, ou melhor, borda, para o desperdício, a Barbaridade ironicamente traduziu o que havia de mais avançado no mercado.
Primeira e única pizzaria na cidade a vender pizzas a metro, o único regresso da Barbaridade foi às origens dos fundadores. Proveniente de família alemã, o petropolitano Bruno Duarte Ferreira cresceu junto da família em volta da mesa e, em dezembro de 1992, cedeu às raízes: abriu, junto do primo, Altamir Cailleaux Filho – o Mirim, o próprio negócio no segmento da alimentação.
Disposta a estimular a curiosidade do público e a revolucionar o mercado da época, a dupla apostou no bárbaro, no inédito. Implementou tábuas de carne de sol, de joelho de porco, e ressignificou o conceito de pizzaria.
“Era sempre engraçado quando ligavam para fazer o pedido e nos perguntavam como entregaríamos tantos metros de pizza”, diz Olga Fraguas Pires, 65.
Esposa de Mirim, a aposentada conta que acompanhou e participou desde a criação ao fim do empreendimento, em 2003. Apontada como uma paixão, ela desempenhava com satisfação quaisquer fossem as funções designadas na loja: de operar o caixa a descascar batatas e auxiliar na cozinha.
Munida de um livro dos frequentadores mais assíduos do restaurante, Olga explica que, às quintas, reunia a turma dos referidos fregueses para um cardápio diferenciado em que não faltavam pratos ligados à culinária alemã. Nos demais dias, contudo, a atração principal se mantinha a mesma: a pizza a metro, preparada em tabuleiros modificados.
“Nossa caixa de viagem não podia ser de um metro porque não caberia na moto, então fazíamos assim: se a pessoa pedisse um metro de pizza ela receberia duas caixas de 50 cm”. E se, por sua vez, a pessoa decidisse comê-la no próprio restaurante, a criação logo chamava atenção pelo formato quadrangular que a tornava recheada por completo.
Nascido e criado na Mosela, o massoterapeuta e terapeuta de fogo sagrado, Fabiano Monken Afonso, de 41 anos, não exitou em conhecer o modelo. Adolescente, à época, passou a frequentar a Barbaridade semanalmente junto da família que, quando ia em sua totalidade, pedia ao menos dois metros de pizza.
“Já morei no Rio, moro em Campos e nunca mais vi pizza como aquela. Na Barbaridade não tinha desperdício. Você comia a pizza inteira porque não tinha borda”. Comercial, até onde necessário, mas longe de industrial, o espaço cativava e se destacava, justamente, pelo fato de ser caseiro.
Sem borda para o desperdício
Extensão de casa, até porque foi atrás do negócio que Bruno nasceu e viveu, o negócio foi idealizado por amigos e seu sucesso assegurado também por eles. Bruno e ‘Mirim’ não trajavam ternos e muito menos miravam planilhas quando decidiram fundar o restaurante. O cenário, na verdade, foi bem contrário a esse.
Diz Bruno que os dois expunham gado na Feira Agropecuária, de Itaipava, quando decidiram alugar uma barraca para venda de bebidas e comidas: ponto de partida para o restaurante. Um colega sugeriu o nome e, acordadas algumas ideias, estava criado o projeto de negócio. “Os amigos incentivaram muito. Eles queriam fazer um ponto de encontro, e foi o que aconteceu”.
Capazes de convencer o público a aderir às invenções da Barbaridade, os primos implementavam melhorias na “base do bate-papo”. E, assim, abertos a opiniões, tornaram a picanha na chapa carro-chefe do “a la carte” e a produção semanal de pizza de ao menos 70 metros. “Chegava fim de semana e era fila que te deixava maluco para acomodar todo mundo”.
Tendo crescido junto da família em volta da mesa, Bruno habitou a filha a fazer o mesmo. Recorda a administradora de empresas Fabiana Ferreira, de 42 anos, que já aos 16 os auxiliava a cobrir folgas e a gerenciar o negócio. “Era um lugar bem agradável e familiar. Para eles era uma festa e acho que foi esse o motivo de ter dado certo”.
Tendo recebido e desenvolvido amigos ao longo de dez anos, a Barbaridade traduziu o avanço e a civilização de quem não tinha borda para o desperdício, fosse ele de alimentos ou laços.
(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 26/01/2020)
Eu e Bruno crescemos na Mosela, sempre um cara muito legal com todos. Torneiro de mão cheia abriu uma oficina na servidão do Barbaridade. Abriu também uma academia de judô no prédio da antiga fábrica Santa Julia na praça da Mosela, era mais para os amigos mais chegados era divertido. Eu era garotão . Bruno merece o sucesso.
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