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No Dia Internacional dos Museus, conheça histórias de quem faz a manutenção do Museu Imperial

Ele já esteve no telhado, no sótão e até debaixo do assoalho da antiga residência de verão da família imperial

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Ele já estava próximo dos 50 anos quando esteve no Museu Imperial pela primeira vez. Sem nunca tê-lo visitado, em 1996 o petropolitano Delson Antônio Zainotte foi contratado como encarregado de manutenção do palácio. Desde então, ele não apenas o conheceu, como percorreu cantinhos do museu em que nem mesmo o imperador colocou os pés. No Dia Internacional dos Museus, conheça histórias de quem faz a manutenção do Museu Imperial.

Aos 72 anos, “seu” Delson tem energia e “causos” de sobra. Um dos responsáveis pela manutenção interna e externa do Palácio Imperial de Petrópolis, ele já esteve no telhado, no sótão e até debaixo do assoalho da antiga residência de verão da família imperial. Ainda que não sejam poucas as lendas envolvendo o local, sem cismas, como ele mesmo brinca, “assombração que eu vejo somos nós mesmos”, ri Delson.

Foto: Petrópolis Sob Lentes

Onde a cada dia ele, literalmente, caminha por novas perspectivas da história, os episódios vividos pelo petropolitano vão muito além de passeios pelo jardim e pelos cômodos do palácio. Tendo tido que trabalhar na parte elétrica, nos lustres e até no sistema que mantém a coroa de Dom Pedro II em exposição, é seguro dizer que “seu” Delson percorre e desvenda a história a partir das funções que desempenha.

Chegando a descobrir jornais do século XIX numa das caixas de porta do palácio, o petropolitano também já se deparou, num serviço envolvendo manilhas, com pedaços de cruz que, muito provavelmente, sejam da época em que o palácio foi ocupado pelo colégio Notre Dame de Sion e até capela chegou a abrigar. E se para a maioria ir ao museu é como viver um romance de época, para Delson há vezes em que o cenário mais parece pano de fundo para um filme de ação de que é parte.

Foto: Petrópolis Sob Lentes

“Não é qualquer um que entra debaixo do assoalho. Já andei em várias partes dele, tudo por baixo, para fazer o cabeamento. Tem lugar em que você ter que andar rastejando igual cobra. Tinha um camarada aqui que não sei o que ele arrumou que a lâmpada falhou no meio da viagem e ele entrou em pânico”. Entrelaçando o ontem com o hoje, “seu” Delson também se depara com situações da contemporaneidade, como os frequentes entupimentos dos banheiros provocados por equipamentos com que, na época do império, nem se imaginava.

“Já aconteceu de eu achar carteira, celular, um monte de coisa. Às vezes está no bolso, a pessoa vai usar o banheiro, dá descarga e, na hora que vai ver, já foi”. Contrário à ideia de remoto e intocável, a verdade é que a beleza dos museus está em sua capacidade de se manterem vivos e, portanto, fruto das experiências individuais de cada um. No caso de Delson, por mais que, como ele mesmo descreva, estar em determinados ambientes do palácio o faça pensar no sofrimento de quem o construiu, o museu é peça central de muitas de suas histórias e alegrias.

Foto: Petrópolis Sob Lentes

Da vez em que tropeçou numa pedra e viu sua marmita rolar e abrir durante uma Solenidade do Batalhão aos sopões de equipe em que fazia questão de usar uma colher com furo para reter apenas “a mistura”, cada cantinho do Museu Imperial lhe remete a uma experiência diferente. Elegendo o telhado como seu recanto favorito – “é divertido e tem um ar mais puro”, é no chão, porém, que está a interação com os demais de que tanto gosta e os contratempos que tanto o divertem, a exemplo do quadro que, da parede, voltou para a restauração.

“Esses quadros são muito recomendados. Até o modo de pegar tem um macete. A gente ajuda a fixar na parede e, nesse dia, fomos pendurar um quadro que era peça fundamental na exposição. Acabamos tudo direitinho e quando um colega abaixou para pegar a escada, ela abriu o quadro no meio”, revive o momento. Dedicado a conservar e expor itens de valor e interesse histórico, o palácio faz questionar: quais histórias se passaram naquelas dependências e são dignas de se manterem vivas no museu de cada um?

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

18 Comments

  1. matéria interessante deveriam fazer também com outros funcionários, esse pessoal tem muita coisa interessante para contar

    • É verdade! Eles trazem histórias que são fruto da vivência deles enquanto funcionários e que são tão importantes e interessantes quanto as que lemos nos livros!

  2. Sou fã de carteirinha do Sr Delson! Pessoa ímpar e de uma sensibilidade muito aguçada. Sua narrativa é envolvente e peculiar, com os traços da simplicidade e ao mesmo tempo da grandeza do seu olhar perscrutador.

  3. É um exemplo de amigo, profissional e ser humano, linda homenagem a alguém que merece todo reconhecimento !

  4. Trabalhei com essa personalidade impar na cervejaria.E mais que merecedor dos comentários e homenagem.Grande figura.Parabens.

  5. Parabéns ao Sr.º Delson, pessoa impar e rara cuja experiência e personalidade nos enche de orgulho.
    Nós da Vinil Engenharia temos enorme satisfação de tê-lo em nosso time de colaboradores.
    André Nascimento – Coordenador.

  6. Parabéns pelo trabalho.
    Aproveito para deixar a minha homenagem ao Sr. Delson que exerce suas funções com todo carinho e dedicação.

  7. Parabéns Carolina pelo seu trabalho e parabéns tb ao meu pai Sr Delson…Pessoa maravilhosa, de um ❤ enorme. Sempre pronto a ajudar a todos, e de uma dedicação imensa ao seus afazeres.Um amor imenso por seu trabalho no Museu Imperial !

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