Assim como não tem impressão digital idêntica à outra, cada um é resultado das experiências que vivencia e das tradições que, com o tempo, se tornam suas também. Em Petrópolis, uma celebração que se revela parte da identidade dos moradores do bairro São Sebastião é a festa em homenagem ao padroeiro de mesmo nome. Comemorada em 20/01 desde o começo da década de 50, a data é um misto de fé, história e emoção.
Desdobramento da antiga Fazenda do Cortiço, conta-se que até 1908 a região do São Sebastião se restringia a apenas três famílias. Gradualmente povoada, sobretudo, pelos trabalhadores que contribuíram com a construção da Estrada Rio – Petrópolis, a localidade gradualmente viu seu cenário mudar. A densa mata deu lugar a moradias e, junto das novas famílias, nasceu a vontade de construção de um templo que as amparasse.
Soma dos esforços dos que vieram antes – tendo na figura do frei Leão seu principal benfeitor, e dos que continuam a trabalhar por ela, a Paróquia de São Sebastião do Indaiá é o coração do bairro. É dela que pulsam capítulos da história local que, por sua vez, são também parte da identidade dos moradores. É o caso, por exemplo, da tradicional festa em homenagem ao padroeiro, realizada anualmente no dia 20 de janeiro no bairro.
Ocorrida, segundo artigo publicado pelo professor e historiador Jeronymo Ferreira Alves Netto, pela 1ª vez no começo dos anos 50 para levantar fundos para a obra da igreja, a festa de São Sebastião habita as memórias de grande parte das famílias do bairro. Construída, desde o princípio, com base no coletivo, a celebração remete ao prazer que reside em partilhar – momentos, esforços, legados. Responsável por atrair moradores, inclusive, de outros bairros, o evento tem no paladar, na emoção e na crença seus pontos fortes.
Fotos: Arquivo/Paróquia São Sebastião do Indaiá
Nos anos 60 e 70, eram certas as brincadeiras, das mais variadas. Tendo vivido uma história que, em muitos aspectos, se entrelaçou com a da paróquia, a petropolitana Maria da Glória Forster Maria, de 76 anos, recorda as edições passadas da festa do padroeiro, em que no dia propriamente dito ou naqueles que o antecediam, era certo o envolvimento seu e de sua família: uma das primeiras a contribuir para a consolidação da paróquia.
“Já pequena eu ia para a festa e ficava dentro da barraca com a minha mãe. Com meus 12, 13 anos, eu já trabalhava. Ficava sempre na pesca e, quando comecei a namorar, ficávamos eu e meu namorando tomando conta dessa barraca. Tinha comida – cuca, pudim de pão, pastel artesanal, caixa surpresa e porquinho de índia”, relata dona Glória, a Glorinha.
Com vívidas lembranças de todas as etapas que antecediam a festa, Glória fala, ainda, sobre o processo de obtenção de prendas para as brincadeiras e da alegria que era se sentir parte da engrenagem. “A dona Marília, que era professora no André Rebouças, sempre juntava um grupinho que ia de casa em casa pedir prenda para fazer a festa. A pessoa dava o que queria. Lembro de subir a Adão Brand e sair na Saldanha Marinho. Para mim era uma festa”.
Imagens trazem registros dos avós e pais de dona Glória, respectivamente. Fotos: Arquivo pessoal
Neta do português Custódio Ferreira da Costa – doador do terreno hoje ocupado pelo pátio da igreja – a petropolitana nasceu e cresceu no bairro em que seus avós e pais construíram uma história de devoção. Se, por um lado, era sua avó Silvana quem, na época da construção da paróquia, dava um cafezinho ao Frei Leão e à catequista Hermínia Matheus depois da missa aos domingos, anos mais tarde a missão foi continuada por seus pais.
“Antigamente, quando a gente comungava, era em jejum de no mínimo três horas. Eles vinham a pé do Alto da Serra, celebravam a missa e, com isso, passavam muito tempo em jejum, aí minha família dava o café. Minha avó foi ficando idosa, então meus pais, Orlindo Carlos e Carmen Ferreira da Costa Forster, passaram a fazer isso por eles. Quando o frei Leão começou a construir a igreja eu tinha 5 anos”.
Com seu pai na posição de tesoureiro, dona Glória explica que, nos anos que se seguiram, seus pais não apenas foram os guardiões da chave do templo, como seus primeiros zeladores e colaboradores. Assim, eram eles que varriam a igreja e a mantinham florida. “Parte de sua história e de sua vida”, como ela mesma descreve, a Paróquia de São Sebastião do Indaiá é a consolidação de uma caminhada de comprometimento e união.
Moldada pelo tempo, a celebração continua a, tradicionalmente, ser realizada no dia 20 de janeiro. Frequentada por diferentes gerações de famílias do bairro e de fora dele, a festa se consolidou como misto de história e emoção em que, a exemplo do soldado São Sebastião que foi guerreiro e somente lutou pelo bem, os fiéis celebram os esforços, a união e a fé que determinam a vida.
Fotos: Petrópolis Sob Lentes
Sensacional!
Parabéns.
Meu nome Ferdinando Barillo Cruz e que minha família me conta que meu avô Ferdinando Barillo ajudou com seu caminhão a aterrar onde é o hj a igreja ele veio a falecer cedo aos 38 anos .
Muito bom
Olá!!!! Em 2005 foi feita uma exposição comemorativa dos 50 anos da Igreja! Eu não tenho o DVD que foi gravado na festa… mas se algum morador do bairro tiver, vocês terão acesso a uma imensidade de informações e imagens!!!
Com muita saudade lembro da primeira missa de domingo e criança ainda saindo com minha família debaixo de um frio gigantesco.
Também ficou na memória a procissão de São Sebastião passando em frente ao portão calçada da casa de veraneio dos meus avós.