Os viajantes não saíam do chão, mas ainda assim davam uma volta ao mundo. Ora num bistrô francês, numa cantina italiana ou num café inglês, era com base nos cardápios da Casa Copacabana que a clientela definia seus destinos. Com o passaporte carimbado, o passageiro saía de lá convicto de que não demoraria a retornar.
“Coloquei o mundo no Copacabana”. É essa a fala do português Márcio Alberto que, aos 85 anos, embarca numa viagem no tempo quando, humildemente, traz à tona memórias da Casa Copacabana: negócio do qual foi proprietário por cerca de duas décadas. O sucesso do estabelecimento era evidente, e os números não mentem: segundo Mário, havia mais de 80 pratos no cardápio e 130 funcionários.
“Vinham mercadorias e gente do mundo inteiro. Para isso fiz uma pesquisa de produtos durante quase quatro meses pela Europa. Cataloguei tudo e os trouxe para cá. Passei pelas capitais para ver o que era bom: Londres, Nova Iorque, Toronto, Sydney, Paris.”
O freguês tinha a atenção dividida pelos dois ambientes que compunham a Casa: a confeitaria e, aos fundos, o restaurante que, estampado por um painel de Copacabana, tinha as paredes forradas por pinho de riga. Ambos os espaços com produtos igualmente saborosos.
“Nas sextas, era servido o vatapá e, aos sábados, a feijoada: prato forte que atraía gente do Rio. Ainda hoje me dizem: ‘Mário, quanta falta faz aquela Casa’. Cheguei a receber o Alceu Amoroso Lima. Ele ia lá com os filhos, já velhinho, jantar e almoçar todo dia. É gratificante. Não mereço nem a décima parte do carinho que tenho do pessoal todo”.
Para abrir o apetite
Regido por um clima familiar, a Casa Copacabana era destino certo da bióloga e professora Ana Maria Maniaudet, que, juntamente de seus pais, irmãs e avó, desfrutava do almoço do estabelecimento nos fins de semana. Segundo ela, o couvert era esperado com entusiasmo.
“O patê de foie com picles picadinho era uma delícia. O Copacabana esteve muito presente na rotina de minha família. Tínhamos nossas preferências: os filés à francesa e à cubana, os camarões com champanhe, o estrogonofe de camarão, arroz à grega com brochetes de filé e camarão”.
Ana Maria conta que nem mesmo os artistas da época resistiam ao encanto do restaurante e que se lembra de ter visto Tônia Carrero, Carlos Imperial e Jô Soares no que considerava ser uma extensão de sua própria casa. Assim como ela, o promoter e cantor Celso Vieira de Carvalho relembra o nome de outro artista que se rendia à Casa Copacabana.
“Depois de um show do Francis Hime, no Shopping Vilarejo, ele disse, num bate papo informal, que ia com o Vinícius de Moraes ao Copacabana por volta das 11 horas da manhã tomar Campari e que o Vinícius dizia: ‘vamos dar início aos trabalhos’! Isso já faz mais de 20 anos”, diz Celso, que aproveita para declarar seu ‘fraco’ pelo vatapá e filé Wellington antigamente vendidos no local.
Aos olhos dos pequenos
Se engana quem pensa que eram apenas os adultos que saíam da loja satisfeitos. O engenheiro eletrônico Miguel Luiz Martins, de 58 anos, explica que, sempre que podia, comprava as balas e chocolates de sabor inconfundível da confeitaria.
“Dali eu gostava das barras de chocolate “Urso Branco”, das balas de cevada e das “azedinhas sortidas”, da Sönksen. Só de lembrar, ainda me enche a boca d’água! Me recordo perfeitamente do seu gosto delicado e inconfundível. Uma pena que tanto a Sönksen quanto a Confeitaria Copacabana tenham fechado!”.
Igualmente encantada pelos doces vendidos no estabelecimento, em especial pela banana split, era a aposentada Teresa Santos.
“Lembro que nós sempre comprávamos pão na padaria e que minha irmã mais velha levou a mim e ao meu irmão para tomarmos banana split pela primeira vez lá. Foi uma mistura de curiosidade e satisfação de me sentir importante”.
Também deslumbrada pela Casa era a aposentada Luzia Helena Ramos, de 65 anos. Ela conta que estudava no Liceu Municipal Prefeito Cordolino Ambrósio e que considerava um verdadeiro deleite observar os balcões de vidro. Que dirá ter a chance de desfrutar de um dos tesouros de lá.
“O ponto do ônibus ficava perto do Colégio Santa Isabel, então antes de ir para o colégio eu e minhas amigas entrávamos lá e pedíamos água ao garçom que gentilmente nos servia. Éramos crianças de famílias humildes. Saímos de lá felizes por ter bebido em taças que serviam os clientes da alta classe”.
De olhos fechados, o cliente da Casa Copacabana sentia a mente viajar, o coração disparar e a sensação de que, a um pedido, estava, mais uma vez, a sensação de percorrer o globo.
(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 28/10/2018)
Muito bacana, gostei.
Prezados:
Me deliciei ao ler o texto acima, pena que foi curto, descrevendo alguns momentos ocorridos na Casa Copacabana. Conheço parte dessa história por ter trabalhado lá como balconista, entre 1970 e 73. Tive o privilégio de conhecer dos mais humildes fregueses, nas suas compras básicas, aos da alta sociedade e dos mais variados meios, como o político, o artístico, grandes empresários e profissionais liberais, como o arqto. Antonio Antunes Barreto, que me inspirou a estudar arquitetuta mais tarde. Realmente, foi um período de grande efervescência! Não posso deixar de destacar aqui o profissionalismo dos dirigentes da Casa na época. Sr. Joaquim (metre); Sr. Silvio (supervisor); Sr. Celso (gerente) e os sócios, seu Cruz; seu Mário; seu Viana e seu Monteiro.
Q matéria linda…meu pai foi um dos confeiteiros de lá…só boas recordações ao ler td isso…
Olá Marcos. Me chamo Eduardo Cruz e sou filho do Sr. Cruz, um dos sócios do Copacabana.
Muito feliz pela sua lembrança do meu querido pai e do Copacabana.
Obrigado
Como todas as portagens fotos etc.. Era de mas íamos família. Degustar as delícias, belos pratos e tudo que casa oferecia. Mas fotos pra sacudir coração lembrar as velhas maravilhas da terra uma pena ter acabado todas maravilhas que muitos não conheceram. Viva petropolis. Aqui longe mostro aos amigos toda cidade todos acham maravilhosa. O prefeito Bernardo faça por merecer seu cargo.
Ta longe e sumido!!
O Copacabana faz parte da minha infancia nos anos 70. Tinhamos casa em Petropolis, e era sagrado ir ao Copacabana. Sempre eramos atendidos pelo mesmo garçom, um rapaz muito, mas, muito gente boa, no momento, infelizmente não me vem a lembrança de seu nome. Era filho de alemães e tinha muitos filhos ( que eram seu orgulho). Eu era a cliente do Espaguete A Bolonhesa ( até hoje o MELHOR DO MUNDO!). Tenho muito carinho pelo Copacabana, fez parte da minha infância, da minha história. Amo muito a cidade de Petrópolis.
Abraços,
V. Güedes
30/01/2022
Aveiro, Portugal