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Armazém Olavo Bilac e o legado de ‘seu’ Pedrinho

Foram três as gerações da família Sindorf que gerenciaram o Armazém Olavo Bilac

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Contrastante à região de transição em que se estabeleceu, o armazém do ‘seu’ Pedrinho, na Olavo Bilac, foi permanente. Fundado em família e sustentado também por elas, se tornou, ainda em 1945, o mercado do bairro e a certeza de encontrar, porta adentro, vínculos entre quem soube servir e construir a própria história.

Fotos: Arquivo pessoal família Sindorf – Bruno Avellar, em dezembro de 2019

Foram três as gerações da família Sindorf que gerenciaram o Armazém Olavo Bilac. Três rotas capazes de superar as diferenças e resultar num mesmo rumo. Metáfora ou não, a fachada principal do estabelecimento também foi pautada por três entradas que, da mesma forma, culminaram num mesmo caminho.

Capazes, portanto, de seguir os mesmos passos dos fundadores, foi no tratamento familiar e singular prestado pelos funcionários que os clientes puderam desfrutar do legado deixado por Pedrinho. Para Rosane Archangelo Moreira, de 52 anos, moradora do São Sebastião, o sucesso do mercado se deu, principalmente, à fidelidade da e à equipe.

Tendo o frequentado desde menina, Rosane recorda a alegria que era ter rostos conhecidos com quem puxar conversa ou brincar ao final de um dia cansativo de trabalho. “Tudo vai de como você trata as pessoas. E eles eram atenciosos, carinhosos. Para mim ficou na história”.

Órfã dos precinhos camaradas da casa e das pessoas que fizeram dela referência na região e fora dela, Rosane menciona alguns dos ex-funcionários com quem mais se relacionou e lamentou a falta. São eles Célio e Michel do Açougue, o repositor Antônio e a operadora de caixa Sônia Regina da Silva, de 60 anos.

Simpática, prestativa e amiga, sem nem morar na Olavo Bilac Sônia se tornou marca registrada da localidade. Requisitada pelos fregueses, em seus 22 anos de funcionária foi também frequentemente agraciada por eles. Com elogios ou presentes, jamais saiu de lá com as mãos ou o coração vazio.

“No meu aniversário e no Natal eu ia para casa de táxi, de tanto presente que eu recebia. Foi um serviço ótimo na minha vida!”.

Marco na vida de dona Sônia e na de quem contribuiu com a história do mercadinho, o empreendimento de uma vida teve na figura do senhor Pedrinho o lançamento da pedra fundamental.

Sempre sorridente, se tornou conhecido pela beleza de espírito e de alma com que recebia os clientes e amigos. Conta Lucia Marques Corrêa, de 74 anos, que eram frequentes suas visitas ao armazém junto da mãe, Maria Eva, cujo padrinho de batismo era, justamente, o senhor Pedrinho!

Diz ela que, na busca por ele, mais garantido do que ir à casa da família, era ir ao armazém: certeza de que o encontrariam por lá. “Mamãe ia lá tomar benção, como se fazia antigamente. Sempre que íamos cumprimentá-lo ele me enchia a mão de balinhas. Era uma pessoa muito boa e o armazém era tudo para o local, o único comércio dali”.

Dona Elvira e ‘seu’ Pedrinho. Foto: arquivo pessoal família Sindorf

Da carroça à venda on-line

Inaugurado em 1945 por Pedro Gabrich – o Pedrinho, o Armazém Olavo Bilac acompanhou e liderou as transformações na região, a começar pelo sistema de venda e entrega, que da carroça passou à internet e fez do mercado o primeiro de médio porte da Região Serrana a vender on-line.

Moradora da Rua Monte Castelo há 20 anos, Regina Maria Pereira Mendes da Silva, de 66 anos, relembra a praticidade do site que fez dela usuária constante. Segundo Regina, a página era atualizada diariamente com as ofertas do dia. Bastava escolher os itens desejados e esperar pela entrega: rápida e eficaz.

“Era fantástico! Foi o primeiro mercado da cidade a fazer a venda de mercadorias pela internet”.

Tendo movimentado e ajudado os moradores da localidade, também mobilizou e uniu os Sindorf para dar continuidade ao negócio do patriarca da família.

Neto de ‘seu’ Pedrinho, Leonardo Werneck Sindorf, de 51 anos, relembra os 30 anos passados dentro do mercado em que se conhecia o cliente pelo nome. “Foi uma loja que passou de geração em geração: do meu avô para o meu pai (Nélio) e meus tios (Ney e Nilmo); para mim, meu irmão Leandro e meu primo José Renato”.

Com clientes no Bingen, em Cascatinha, em pousadas e até nos distritos, a família viu outras crescerem por intermédio do mercado que, mais do que da Olavo Bilac, foi do senhor Pedrinho e de todos os princípios que cultivou e eternizou numa marca praticamente patenteada, como brinca Leonardo.

(Matéria publicada no jornal Tribuna de Petrópolis em 29/12/2019)

Carolina Freitas

Jornalista e escritora, Carolina Freitas se dedica ao resgate e à valorização da memória petropolitana a partir da produção de reportagens e curtas-metragens sobre a história, o comércio, e a vida da cidade.

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