Na Primeira Guerra Mundial, desconfiança perante alemães levou a saques e vandalismo em Petrópolis

Com o afundamento do “Paraná”, o governo brasileiro declarou guerra à Alemanha. A desconfiança cresceu – e filhos e netos de colonos alemães começaram a ser vistos com suspeição em Petrópolis

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O conteúdo a seguir é de autoria do jornalista Eduardo de Oliveira. Ele começou sua carreira na “Tribuna de Petrópolis” em 1987. Depois, trabalhou nos jornais “O Dia”, “O Globo” e na sucursal carioca da revista “Veja” no Rio de Janeiro. Desde 2002 é professor universitário, na graduação em Jornalismo. É mestre em Ciência Política pela UFRJ e doutor em História pela Fundação Getúlio Vargas.

Também intrigado pelas curiosidades que constituem o passado da cidade, Eduardo, que foi meu professor na faculdade de Jornalismo na UNESA em Petrópolis e em muito contribuiu para a construção da minha identidade textual, me presenteou com uma belíssima pesquisa e levantamento histórico sobre a cidade no contexto da Primeira Guerra Mundial. Espero que gostem do material e desta parceria!


Na década de 1910, Petrópolis já era reconhecida como o destino elegante para o veraneio dos governantes do país e da elite econômica. E também era considerada uma cidade pacata. Nos relatos de viajantes e nos cenários de cartão postal, o que se destacava era a atmosfera de harmonia. O clima de paz era tamanho que um reduzido contingente policial (seis ou sete homens) pareciam então suficientes para garantir a segurança de aproximadamente 65 mil habitantes. No entanto, naquela época a cidade pacífica também testemunhou momentos de conflito social. Em dois eventos, nos anos de 1917 e 1918, multidões foram às ruas promovendo saques e vandalismo, em reações inesperadas na idílica cidade imperial. 

1917

Na manhã do dia 11 de abril chegou a Petrópolis, vindo do Rio, o diplomata Luiz Guimarães Filho. Ele tinha uma grave missão: oficializar o rompimento diplomático do Brasil com a Alemanha. A Europa estava há pouco mais de dois anos mergulhada na primeira guerra mundial e o Brasil, até aquele momento, havia mantido sua neutralidade. Mas o então recente afundamento de navios mercantes nacionais, torpedeados pela marinha alemã, obrigou o governo a romper com o Reich.

Naquela manhã chuvosa, Guimarães desembarcou na estação ferroviária e tomou um carro de aluguel – hoje diríamos um táxi – na rua Doutor Porciúncula. Após passar rapidamente pelo palácio Rio Negro, dirigiu-se então à legação alemã, na Rua 13 de Maio, em um imóvel, hoje inexistente, ao lado do palácio da princesa Isabel. Foi recebido pelo embaixador alemão, Paoli, e lhe entregou os passaportes, bem os termos do rompimento entre os dois países. Foi um encontro um pouco constrangedor, porque Guimarães e Paoli eram amigos.

Este constrangimento, causado pela ruptura diplomática, também entrou no cotidiano de cidades brasileiras onde a presença alemã fazia parte de sua história, como Petrópolis. De uma hora para outra, falar em alemão ou mesmo ter um sobrenome germânico poderia provocar desconfianças. Mas, ainda assim, na cidade imperial não houve conflitos. Ou, pelo menos, até outubro: os torpedeamentos continuaram até que, com o afundamento do “Paraná”, o governo brasileiro declarou guerra à Alemanha, dia 25. A desconfiança cresceu – e filhos e netos de colonos alemães começaram a ser vistos com suspeição. 

Uma semana depois, em 2 de novembro, ainda era grande a incerteza sobre as consequências declaração de guerra – assunto obrigatório nas rodas de conversa. E elas estavam animadas na noite daquela sexta-feira. O Café Avenida (na Rua do Imperador, perto da esquina com Alencar Lima) recebia seus fregueses habituais, dentre os quais dois amigos italianos, que trabalhavam no comércio. Eles também conversavam sobre a guerra, até que tiveram uma diferença de opiniões: um deles acreditava que a Itália deveria ter mantido seu compromisso de aliar-se ao Eixo; enquanto o outro entendia que a Itália tinha mesmo de ingressar entre os Aliados. A divergência gerou bate-boca e briga. A polícia interveio e levou os italianos para a cadeia, que ficava no antigo fórum (hoje sede do Cefet), do outro lado da rua. 

Foto ilustrativa do Centro de Petrópolis no começo do século XX: Acervo pessoal Alexandre Carius

Um grupo de brasileiros testemunhou a cena. E acompanhou os policiais e os italianos até a delegacia. O grupo permaneceu lá, reivindicando a soltura do italiano “pró-Aliados” – o que efetivamente aconteceu, por volta das 21 horas. Em clima de comemoração, o grupo retornou ao Café Avenida e talvez lá tivesse permanecido, não fosse uma ideia que surgiu: protestar contra Max Meyer, dono de uma pensão que ficava a poucos metros dali.

Meyer era alemão e muito conhecido na cidade. Anualmente, em 27 de janeiro, festejava o aniversário do kaiser Wilhelm II, promovendo uma festa com banda de música – e pendurando uma foto do monarca alemão na fachada de seu estabelecimento. Até então, em conversas particulares, Meyer não tinha qualquer problema em defender abertamente a causa do Eixo. Mas, com a declaração de guerra do Brasil, a situação era outra. E os brasileiros do Café Avenida, em algazarra, dirigiram-se para a pensão do alemão, no número 988 da Rua do Imperador (atualmente vizinho ao edifício Profissional). Lá, da calçada, o grupo limitou-se a arrancar uma tabuleta com o nome do estabelecimento, bem como vaiar e provocar Meyer, que não saiu à rua. A “brincadeira” atraiu mais gente e fez surgir uma outra ideia: repetir o “protesto” na Padaria Alemã, na então Rua 1º de Março (hoje Roberto Silveira). 

O grupo foi caminhando até lá e outros “manifestantes” foram se unindo no percurso. Mas na Padaria Alemã o protesto não foi uma “brincadeira”: ela foi invadida e saqueada. Os poucos produtos que não puderam ser levados foram inutilizados ou jogados no rio. Perto dali, ficava o Deutsche Verein (“Clube Alemão”), na Rua 7 de Abril, tradicional entidade de reunião de alemães e descendentes. O clube estava fechado e, outra vez, houve invasão e depredação, além do “confisco” de quadros do barão do Rio Branco e de Floriano Peixoto. Um pouco adiante, na Montecaseros, o alvo do vandalismo foi a gráfica da revista “Vozes de Petrópolis”, no Convento do Sagrado. Entre os franciscanos havia alemães e suíços, motivo pelo qual, segundo um repórter da Tribuna de Petrópolis, a multidão entendeu que a Vozes era “germanóphila”.

À medida em que se deslocava, o grupo ia ganhando novos adeptos. Da 7 de Abril, os manifestantes partiram em direção ao Deutsche Saengerbund Eintracht (o Coral Concórdia, na Rua 13 de Maio). Nos registros da entidade ficou o talvez único depoimento acerca dos acontecimentos. Apesar de anônimo, o relato de um dos sócios é bastante esclarecedor sobre como procederam os “nacionalistas”: 

“Enquanto jogávamos bolão na sede, recebemos pelo telefone uma notícia que uma multidão de pessoas se dirigia para a Rua 13 de Maio, a fim de atacar a sede da Sociedade. Ao tomarmos conhecimento do assunto, tratamos de esconder nossos arquivos, inclusive os livros de atas de outros documentos. Mal terminamos os trabalhos, ouvimos na rua um vozerio intenso. Imediatamente nos colocamos à porta com a bandeira do Brasil. Nada adiantou: enfurecidos, os mais audaciosos penetraram na sede, quebrando as janelas. No interior, além dos estragos, os retratos do Barão do Rio Branco, do Imperador Dom Pedro II e de Rodrigues Alves desapareceram das paredes, levados pelos participantes da baderna. Passados poucos minutos, novo ataque foi desfechado, desta vez com maior violência. Foi uma quebradeira geral.”

Na avaliação da Tribuna de Petrópolis, já passava das 22 horas e centenas de pessoas participavam do tumulto. Da 13 de Maio, a multidão dirigiu-se para a Deutsche Evangelische Gemeind Schule (“Escola comunitária evangélica alemã”), na Rua Ipiranga, que também foi depredada. Dali seguiu na direção da Praça Ruy Barbosa. O alvo seguinte foi Turnverein (“Clube Ginástico”), na Rua do Encanto, próximo ao local onde, no ano seguinte, seria erguida a casa de Santos Dumont.

De lá, a multidão tomou o caminho da Rua Doutor Nélson Sá Earp (então Rua do Cruzeiro) e, em seguida, para a Rua 14 de Julho (Washington Luís), tendo como alvo o Armazém Finkennauer (imóvel hoje desocupado, onde até poucos anos funcionava o hotel Scala). Do armazém partiu uma carroça de alimentos “confiscada”, que foi enviada ao orfanato Santa Isabel. Bem perto do Armazém Finkennauer, já na Rua do Imperador, ficava o alvo seguinte, açougue de Fritz Geiser, que também foi atacado.

Na primeira imagem, o então Armazém Finkennauer, cujo prédio, décadas mais tarde, viria a abrigar o Hotel Scala, na Rua Washington Luiz. Fotos: Museu Imperial/Ibram/MinC – Google Maps

A esta altura, ainda segundo a Tribuna de Petrópolis, já eram aproximadamente mil baderneiros participando do quebra-quebra. Eles retornaram à Pensão Max Meyer (desta vez provocando danos maiores), atravessaram a Rua do Imperador e prosseguiram, agora do lado ímpar, atacando o Armazém Klinkammer (local onde hoje está a padaria Petrópolis); e, metros adiante, a sede do jornal Nachrichten (onde hoje fica uma butique). Publicado desde 1901 por iniciativa de Pedro Hess, filho de imigrantes, o jornal bi-semanal circulava em Petrópolis trazendo notícias em português e em alemão.  O Nachrichten foi empastelado.

Já era quase de manhã quando a multidão, seguindo pela Paulo Barbosa, atingiu a Rua Doutor Porciúncula. Lá, fizeram provocações a um morador local, identificado como Hansen, em sua própria casa – mas não chegaram a agredi-lo (ainda segundo a Tribuna de Petrópolis) em respeito à sua família, que assistia a tudo. Mesmo assim, naquela rua ainda houve os últimos três assaltos: ao armazém de André Lepsch, à barbearia de Augusto Esch e à Padaria Lesch (que na véspera havia sido rebatizada como “Padaria de Luxo”, talvez para disfarçar a origem alemã do proprietário). A multidão, enfim, dispersou-se – sem que qualquer iniciativa da polícia tenha sido registrada.

Nos dias seguintes, “suspeitos” de simpatia pela Alemanha foram compelidos a manifestar sua fidelidade ao Brasil – e, em consequência, declarar de público a sua identidade brasileira, possivelmente por medo de uma nova manifestação “nacionalista”. Os exemplos maiores desta tensão não estão nos textos redigidos pelos jornalistas, mas nos anúncios publicados (e republicados) diariamente a partir do dia 7 de novembro nos jornais locais. Um dos primeiros é da lavra do próprio intendente municipal, Ferdinando Finkennauer, dono do armazém saqueado na ria 14 de Julho. Ele se descreveu, em uma pequena biografia, como “filho de alemães nascido nesta cidade no ano de 1851” e, sobretudo, “fiel ao Brasil”. Outros falam por si mesmos, como nestes poucos exemplos, dentre vários:

“Para destruir suspeitas, declaro que sou brasileiro nato como provam documentos oficiais devidamente legalizados – Francisco Frambach” (Tribuna de Petrópolis, edição de 8 de novembro)

“Os proprietários do Hotel Pensão Central vêm a público informar que todos seus funcionários são brasileiros natos”. (idem)

“Aos meus fregueses, amigos e ao povo. Pela presente venho declarar que a minha nacionalidade é DINAMARQUESA e portanto sou completamente neutro nestas questões de guerra”. [grifo no original] (Tribuna de Petrópolis, edição de 10 de novembro)

O Deutsche Verein ainda chegou a convocar seus sócios, em 6 de novembro, para uma assembleia que deveria trocar seu nome. Mas, por pressão da polícia, fechou suas portas. Somente um ano depois, com o fim da guerra, o Deutsche Verein e demais clubes voltariam a funcionar normalmente (o Deutsche Saengerbund Eintracht, por exemplo, existe até hoje, no mesmo local, rebatizado como Coral Concórdia). As atividades da escola luterana também não sofreriam, a partir de novembro de 1918, alterações notáveis: as crianças continuaram tendo professores alemães e os cultos religiosos não sofreriam qualquer restrição. Max Meyer, o primeiro alvo dos “manifestantes”, iria progredir em seu negócio, posteriormente ampliado e transferido para outro ponto da Rua do Imperador (onde hoje se localiza o Edifício Minas Gerais). O Nachrichten, porém, não voltaria a circular.

1918

Oito pessoas (dentre elas dois menores) ficaram feridas durante um grande protesto popular na noite de 31 de agosto e madrugada de 1º de setembro. Aproximadamente dois mil manifestantes percorreram ruas do Centro e Valparaíso, invadindo e saqueando 14 casas comerciais. Um dos feridos foi o subdelegado Álvaro de Oliveira, que tentou evitar a invasão de um armazém e foi esfaqueado na barriga, além de ter sido baleado de raspão na cabeça. Somente pela manhã, após o envio de um contingente do Exército vindo de Niterói, então capital do Estado, Petrópolis voltou à calma. Pelo menos 25 pessoas seriam presas e, nos dias seguintes, somente um terço das mercadorias saqueadas foi recuperado.

O envolvimento do Brasil na Primeira Guerra Mundial tornara ainda mais difíceis as condições de abastecimento de gêneros de primeira necessidade. Os produtos escasseavam e também ficavam cada vez mais caros. Foi preciso que o governo interviesse, criando comissões de abastecimento e estabelecendo tabelamento de preços. A medida teve aprovação popular – mas causou inconvenientes para muitos comerciantes. Alguns artigos essenciais sumiram das prateleiras – provocando, em alguns casos, o surgimento de um mercado negro bastante caro. A culpa pela carestia (ou ausência) de víveres, na opinião popular, era dos atacadistas e varejistas. 

As autoridades suspeitavam que a população estava à beira da revolta. No início da tarde do dia 31, o prefeito (interino) Arthur Barbosa telefonou para a sede do governo estadual, em Niterói, pedindo o envio de forças de segurança para Petrópolis – sem obter uma resposta clara. Poucas horas depois houve uma primeira manifestação: um grupo de populares impediu que um armazém atacadista embarcasse, no trem da Leopoldina, uma grande quantidade de açúcar (suficiente para ocupar três vagões de carga). Os manifestantes queriam evitar que o produto entrasse na lista de víveres escassos na cidade. A polícia interveio e embarque não aconteceu. 

Satisfeitos com esta “vitória”, os manifestantes (então ainda algumas dezenas) foram para a Praça Dom Pedro. Para lá dirigiam-se também vários outros populares, para o que poderia tornar-se um protesto. Oradores improvisados discursavam contra a falta de comida e preços altos. Por volta das 19h30 a multidão passou das palavras à ação: seu primeiro alvo foi o Armazém Souza Gomes, situado na praça, no local onde hoje se ergue o edifício Arcádia. Era, provavelmente, a maior casa atacadista da cidade. O estabelecimento já estava fechado e os manifestantes, já então na casa das centenas, não tiveram dificuldade para arrombar as portas, invadir o empório e levar tudo o que encontravam. Um repórter da “Tribuna de Petrópolis” testemunhou a ação:

“Homens, mulheres e crianças, carregando sacos, latas e caixões, passavam em todas as direções. E era de ver-se essa, gente, com a alegria estampada no semblante, suarenta, a deitar os bofes pela boca, conduzindo para casa açúcar, banha, arroz, feijão, manteiga, farinha de trigo, bacalhau, bebidas, biscoitos, uma infinidade de coisas”.

Endereço do antigo Armazém Souza Gomes, situado na praça, no local onde hoje se ergue o edifício Arcádia. Fotos: Almanak Laemmert – Google Maps

Em uma época na qual não existiam supermercados, era nos armazéns que a população se abastecia. Em Petrópolis havia dezenas deles – desde empórios maiores, que vendiam produtos da cesta básica e artigos de luxo; até os tradicionais “secos e molhados”, armazéns menores, bem comuns nos bairros. Grandes atacadistas, porém, concentravam-se no Centro, motivo pelo qual a multidão que atacou o Armazém Souza Gomes logo encontrou um segundo alvo, bem perto dali: a Casa Pestana, na Rua do Imperador, em frente à Praça Dom Pedro. No local hoje existe uma agência bancária, vizinha ao edifício Arabella.

A localização da então Casa Pestana, cuja ocupação agora se dá por uma agência bancária. Fotos: Almanak Laemmert – Google Maps

Fundada em 1873, a Casa Pestana tinha uma refinaria de açúcar movida a energia elétrica, então a única da cidade.  Além de açúcar também vendia álcool e aguardente no atacado. E, no varejo, oferecia “cereais, carne seca, artigos de casas de chá, vinhos, bebidas finas, conservas, biscoitos, queijos, manteigas, chocolates, mates, velas, querosene, farinhas de trigo”. Junto ao armazém, a Casa Pestana tinha uma concorrida confeitaria, onde era possível encontrar “excelentes vinhos da Real Companhia Vinícola Portuguesa” e os “afamados biscoitos e conserva A Paulicéa”. A multidão revoltada, já então com aproximadamente duas mil pessoas, segundo a “Tribuna de Petrópolis”, levou tudo.

Dali os saqueadores se dividiram em dois grupos. Um deles seguiu em direção à Rua 14 de Julho. No caminho, invadiram o armazém de Nicolau Gomes (ainda na Rua do Imperador). E, pouco adiante, o armazém de Ferdinando Finkennauer, que já havia sido assaltado meses antes. O outro grupo percorreu a Rua do Imperador no sentido oposto, invadindo outros dois armazéns e uma quitanda. Na Casa Vieira, também na Rua do Imperador, a multidão foi dissuadida do saque ao ouvir o discurso de um advogado. 

O país estava em guerra e os sentimentos nacionalistas possivelmente estavam aflorados. Talvez por isso, dois proprietários de armazéns tenham conseguido evitar o saque valendo-se de um curioso expediente: nas Indústrias Reunidas, de Manoel Gomes (que funcionava em um sobrado na Rua Paulo Barbosa) e no Armazém de Bernardino Meira (na Rua Souza Franco) foram estendidas bandeiras nacionais, desencorajando os assaltantes: “Um dos filhos de Manoel Gomes assomou à janela com o pavilhão brasileiro e o povo retirou-se, dando vivas ao Brasil”, registrou a “Tribuna”.

Perto da meia-noite chegou um contingente do Exército, enviado de Niterói, e grupos de soldados logo iniciaram o patrulhamento no Centro. Os saqueadores se dispersaram. Mas já na madrugada do dia 1º, no bairro do Valparaíso, um grupo ainda tentou atacar dois secos e molhados – de propriedade de Carminio Vericchio e de Henrique Laranjeira. Os saqueadores foram recebidos a tiros: seis pessoas (sendo dois menores) foram feridas. Maria Macrina, de 19 anos, e Ignácia Costa, de 22, foram levadas para o hospital em estado grave, com diversos projéteis em várias partes do corpo.

Na manhã do dia 1º, 25 saqueadores estavam presos. Alguns haviam sido flagrados em ruas do Centro, enquanto tranquilamente carregavam produtos roubados na véspera. O prejuízo dos cinco maiores armazéns da cidade somou quase 1 conto de réis (algo próximo de R$ 150 mil), valor que foi reduzido nos dias seguintes, com várias apreensões efetuadas pela polícia. Já o inquérito levado a cabo pela polícia, e que durou duas semanas, não chegou a lugar algum. Petrópolis voltou a ser uma cidade pacata –pelo menos até que outras multidões e manifestações, por diferentes motivos, voltassem a ocupar suas ruas, anos depois. Mas estas seriam outras histórias.

Eduardo de Oliveira

Eduardo de Oliveira iniciou sua carreira na “Tribuna de Petrópolis” em 1987. Depois, trabalhou nos jornais “O Dia”, “O Globo” e na sucursal carioca da revista “Veja”. Desde 2002 é professor universitário, na graduação em Jornalismo. É mestre em Ciência Política pela UFRJ e doutor em História pela Fundação Getúlio Vargas.

3 Comments

  1. Me contaram que durante a 2 guerra revoltados foram num hotel na praça da Liberdade onde hoje está o 14 Bis e jogaram o piano do proprietário na rua pensando ser ele alemão no entanto era suíço

  2. […] com o Petrópolis Sob Lentes pela primeira vez na condução da pesquisa e escrita do artigo “Na Primeira Guerra Mundial, desconfiança perante alemães levou a saques e vandalismo em Pet…. Sucesso, a parceria já rende novos frutos. Desta vez, o jornalista nos presenteia com detalhes do […]

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