Caracterizada pela disposição das mercadorias na porta, na Lojas Eduardo a vitrine não é construída por vidro, mas por um atendimento afetuoso que, tal qual o material, transparece no dia a dia. Loja mais antiga no Centro de Petrópolis com administração da mesma família desde a fundação, a casa comercial já guarda mais de 90 anos de história.
Numerosa desde o princípio, a família do Sr. Eduardo Simão cresceu à medida em que a clientela passou a se considerar parte dela. Com sete filhos, o que ocorreu foi que os próprios fregueses se viram – e até hoje se veem – como extensão desse núcleo familiar em que é o relacionamento cortês que ganha o coração do público.
Nascido em uma família de comerciantes, o Sr. Eduardo era visionário e, embora tenha fundado a loja em estilo semelhante ao de uma boutique, não demorou a construir um modelo de negócio próprio que deixava os clientes à vontade para comprar. Com as mercadorias à vista e prontas para serem tocadas, a casa revolucionou o comércio local.
Inaugurada na Rua Barão de Teffé, a Lojas Eduardo teve, pelo menos, nove endereços na cidade. E ainda que a localização tenha mudado, a filosofia e o nome sempre foram mantidos os mesmos. Chegando a adotar o slogan de que “o freguês paga o que quer”, o negócio se tornou conhecido como “uma loja que tem de tudo e para todos”.
Marcado pela figura de Sr. Eduardo, cujo retrato permanece na loja até hoje, é difícil encontrar um petropolitano que não se recorde de sua forte presença. Proprietário do carro Mercedes vermelho que podia ser apreciado na esquina da Rua 13 de Maio, ele ficou conhecido por levar cor ao comércio petropolitano com suas ações originais.
Dona Maria Tereza Simão, de 79 anos, é esposa de Ricardo Simão, um dos filhos do Sr. Eduardo. Segunda geração da família a administrar a loja na cidade, ela relembra a seriedade do sogro para os negócios, as promoções em que “o patrão ficava maluco” e dispunha as mercadorias no chão e os ensinamentos de um atendimento cortês.
“Às vezes o cliente não tinha dinheiro para pagar e ele sempre perguntava o quanto a pessoa podia pagar. Daí fazia um desconto e ainda dava brinde. Até Jô Soares chegou a mencionar a loja em seu programa. O ensinamento transmitido para os funcionários foi primordial, de sempre atender o cliente com cortesia”.
Ô, compadre!
Ambiente em que as pessoas são vistas e ouvidas, a Lojas Eduardo é um dos poucos empreendimentos locais capaz de preservar sua essência com o passar das gerações. Com o hábito de chamar os clientes na porta, abraçar e ouvir histórias, é certo que você verá algum membro da família por trás do balcão e se sentirá de volta à época do “compadre”.
Neta de Sr. Eduardo, Gladis Simão, de 56 anos, foi quem sucedeu os pais na gestão do negócio. Habituada desde cedo a não apenas frequentar, mas auxiliar nas vendas sobretudo de datas comemorativas, ela diz se lembrar da época em que o avô se referia aos clientes como compadres e comadres.
“No começo meu avô os tratava muito assim. Era uma cidade menor e de mais intimidade. Ainda assim, por sermos uma loja tradicional, ainda temos esse vínculo”. Funcionária de seu pai, Ricardo, por 13 anos, Gladis diz ter cursado a escola mais edificante que poderia querer e que lhe rendeu seus 36 anos de contribuição à história familiar.
Diversificado, o empreendimento sempre teve de tudo um pouco. Na época do avô, além das roupas, incluiu itens de armarinho; no período do pai, passou a comercializar panelas, copos e pratos; em sua vez, foi a hora de intensificar a venda de artigos infantis e do universo do bebê. Um movimento acertado que continua a fazer parte do perfil da loja.
“Os clientes são nossa referência e na minha época dei mais ênfase ao infantil. Muitos deles chegam aqui e nos dizem: “só vocês para me salvar”. Responsável pela loja de 1999 a 2022, no ano passado foi a vez de deixar o filho, Felipe, comandar as atividades. Bisneto de Sr. Eduardo, ele trouxe novos ares à empresa, unindo tradição e modernidade.
“Todo mundo tem uma história do Eduardo”
Para Felipe Simão, de 35 anos, que gerencia e, portanto, habita a loja diariamente, o que não faltam são relatos de petropolitanos sobre seu bisavô e a empresa. Certo de que “as histórias da loja se entrelaçam com a da família”, ele tem satisfação em dar continuidade ao empreendimento, dando a ele seu toque pessoal e criativo.
Desinibido e com ideias bastante próprias, Felipe já na infância provou ter talento para o comércio. Como a mãe, ele também auxiliava nas vendas durante o Natal e se diverte ao lembrar que, mesmo nas tarefas para as quais ainda não estava qualificado, dava seu jeitinho de garantir a satisfação do público com carisma e bom humor.
“Com meus 10, 11 aninhos eu ajudava no caixa. Eu não sabia embrulhar. Fazia um ovinho e, enquanto o cliente esperava, eu contava uma história. O pessoal ficava feliz e eu ia tentando desenrolar”. Graduado em Cinema e dotado de uma veia cômica, o empreendedor, tal como o bisavô, tem desenvolvido ações inéditas no comércio local.
Sucesso na internet, o bisneto de Sr. Eduardo leva situações do cotidiano da loja de maneira leve e descontraída para o Instagram e o Tik-Tok: plataformas em que também compartilha novos produtos e realiza enquetes com os seguidores. Maneira de se manter próximo a um público já cativo, Felipe tem atraído internautas de outros estados.
“Toda geração precisa pensar para inovar. Graças a essas estratégias tenho recebido demandas de venda para fora do Estado. Pessoas que querem comprar no atacado. Cada passo aqui dentro é feito com cuidado. Eu não posso afastar nossos clientes de tantos anos e, ao mesmo tempo, preciso me conectar às gerações mais jovens”, afirma.
Ambiente das famílias, a começar pela que a administra, a Lojas Eduardo se consolidou como um local em que se compra desde um pano de chão ao enxoval de um bebê. Fonte de aprendizado e troca constantes, é graças a ela que Felipe se tornou o “netinho” das clientes assíduas, que passam por lá nem que seja para um abraço.
Parceria e amizade duradouras
A petropolitana Marcia Alecrim, de 66 anos, faz parte do grupo de clientes cuja tradição de comprar na Lojas Eduardo atravessa gerações. Tudo começou com seu avô materno, o Sr. Manuel Miranda. Natural de São José do Vale do Rio Preto, ele se mudou para Petrópolis junto da esposa, dos 10 filhos e dos sobrinhos, e encontrou na loja um lugar cativo.
Garantia de variedade e bom preço, foi junto de Sr. Eduardo que Sr. Manuel sempre garantiu as compras da família e, já idoso, continuou a adquirir suas roupas. Motivo de orgulho, o hábito – transmitido para a filha, hoje com 88 anos, e para a neta Marcia – se mantém graças à alegria da amizade e do carinho sentido no atendimento.
“Meu avô cuidava de todo mundo com o Sr. Eduardo. Ele comprava na amizade e pagava à medida que podia. Comecei a comprar com minha mãe e a loja mantém o carinho. Volta e meia vou dar um abraço no Felipe e levar um café. É um atendimento acolhedor. Nunca imaginei criar uma amizade com o bisneto do senhor de quem meu avô era amigo”.
Da mesma forma, uma parceria que se revela duradoura é a de Margaret de Fátima da Silva, de 47 anos, com a família. Antes fornecedora de mercadorias, ela passou a trabalhar com Gladis, de quem se tornou amiga, e com Felipe na antiga Loja Dudu, que administrou antes de assumir a quase centenária Lojas Eduardo.
Tempo vai, tempo vem, já são 20 anos de amizade e cerca de uma década como colaboradora. Duradouros, os laços cultivados na Lojas Eduardo são fruto de um modelo de negócio que, mais do que atender, se compromete a bem servir os clientes e a garantir seu retorno como amigos e coautores dessa história que atravessa gerações.
Abaixo, confira o vídeo produzido pelo Petrópolis Sob Lentes acerca da história de tradição e união familiar da Lojas Eduardo no Instagram:
A cada publicação, uma grata surpresa!
Faltou o foto do seu Eduardo
O cara mais “vaselina” de Petropolis
Admirável pelo jeito de abordar o “freguês” e disposição para negociar. Um professor
Adorei a reportagem e me sinto honrada em poder participar de um pedacinho dessa história que acompanha minha família há muito tempo, por várias gerações!
Não poderia deixar de citar também a capacidade e o profissionalismo de Carolina Freitas, sempre nos brindando com reportagens como esta, resgatando muito de nossa história!