Se, por um lado, as quantidades de maçã, farinha e açúcar do produto carro-chefe da casa já estão pré-definidas, entre os ingredientes que dão a liga entre a família Ferreira, as medidas quem dita são os próprios familiares. Escrita à base de alegria, a história de sucesso da marca Doces Húngaros não tem fórmula secreta, a não ser pela receita da união e do respeito à tradição – preservada em cada doce fabricado e em cada cliente atendido.
Fotos: Petrópolis Sob Lentes
Herdado pelos Ferreira, o dom e o jeito para o negócio se evidenciam na emoção no olhar de quem recorda o caminho percorrido até aqui. Resultado de “duas histórias de muita luta que caminharam juntas”, como explica Simone Amorim Ferreira, de 45 anos, a trajetória dos Doces Húngaros está intimamente relacionada à vinda do imigrante húngaro Sr. Miklos Katona para o Brasil e à figura de sua tia, Maria de Lourdes Ferreira.
Chegando a Teresópolis da Hungria, Simone conta que era na praça central da cidade, em frente à Igreja Matriz de Santa Teresa, que o Sr. Miklos vendia, em cima de caixotes de madeira, os saborosos doces húngaros que produzia. Paralelo a isso, havia sua tia. Vaidosa desde menina, ela trabalhava na roça junto da família e, dotada de uma boa ambição – como faz questão de ressaltar – ainda aos 14 anos de idade traçou novos horizontes aos Ferreira.
“Minha tia era muito vaidosa e queria ter uma vida melhor, como todo mundo merece ter. Ela trabalhava na roça e, quando chegava sábado, ela andava uma distância enorme e ia para o Centro de Teresópolis comprar maquiagem, produto para cabelo, pano pra fazer vestido. Numa dessas idas a Teresópolis, ela soube que o Sr. Miklos tinha conseguido uma loja e que estava precisando de ajudante de cozinha. Ela se candidatou e aí tudo mudou”, diz.
Mulher à frente de seu tempo, Maria de Lourdes era empreendedora e visionária. Foi ela quem teve a ideia de dar início à marca Doces Húngaros e honrar os sabores trazidos pelo Sr. Miklos, cuja família não tinha interesse em dar continuidade à atividade. E foi assim, movida por muitas ideias e, sobretudo, iniciativa, que Maria de Lourdes incorporou os irmãos à empreitada do negócio e abriu seis filiais pelo Estado.
“Minha tia começou a vender os doces em Kombi e, aos poucos, foi disseminando essa cultura entre os irmãos. Uma outra tia minha, Cacilda, é dona da loja de Teresópolis dos Doces Húngaros, que funciona até hoje, e a filial de Petrópolis quem fundou foi meu pai Edgar e minha tia Marlene. Meu pai era caminhoneiro e, nessas viagens, vinha muito a Petrópolis. Ele se encantou pela cidade e, quando colocou na cabeça que abriria a loja, decidiu abrir aqui”.
Aberta em 1969, na galeria do Edifício Santa Inês, a loja de Petrópolis dos Doces Húngaros foi transferida em 1974 para a Rua Marechal Deodoro, 74, onde permanece até hoje com a mesma qualidade, carinho e envolvimento familiar. Para se ter uma ideia, aos 73 anos a dona Marlene da Conceição Ferreira – quem abriu a filial na Cidade Imperial junto do irmão – continua no comando da cozinha e, principalmente, de sua felicidade.
“Já estou na cozinha há uns 57 anos. Comecei com 16 lá em Teresópolis. É uma coisa que a gente gosta de fazer e que faz bem para a nossa cabeça. Minha alegria é estar junto com todo mundo, trabalhando com essa idade bem. A gente é uma família”, descreve dona Marlene que, pelo olhar, revela a satisfação em trabalhar nos doces e na manutenção de uma tradição a que se dedica com tanto prazer.
Junto dela no comando do setor está sua cunhada Marlene de Amorim Ferreira, mãe de Simone. Também há mais de 50 anos na atividade, ela compartilha o gosto pelo ofício e pela oportunidade de escrever novos capítulos da história da família. Sempre que possível ao som de canções de Roberto Carlos, as produções dos doces, strudels e salgados se tornam uma verdadeira sinfonia de sabores regida pelas “Marlenes” e pelos funcionários Bruno e Gabriel.
“Tudo se modifica, tudo se renova, e a gente vai tentando renovar, mas sempre dentro da receita. Começamos com o strudel de maçã e o de banana. Aí colocamos o abacaxi, ameixa, damasco, e inovamos: damasco com brie, com lombinho, bacalhau. Nossa equipe é maravilhosa. Pessoas que a gente pode contar a qualquer momento, a qualquer hora. Porque sozinho a gente não faz nada”, frisa Marlene de Amorim, de 70 anos.
O doce como fonte de alegria, história e união
Bem que contam que o imperador austríaco Franz Joseph I teria dito, no século XIX, que “um dia sem strudel é como um céu sem estrelas”. Líder de vendas, não há strudel em Petrópolis que se compare ao dos Doces Húngaros. Sucesso entre os petropolitanos e turistas, é como se cada camada do doce fosse um convite à história da família que, com base nele, escreveu sua própria trajetória.
É o que comenta Marcelo Silva Ferreira, primo de Simone. Para ele, pensar no strudel dos Doces Húngaros é voltar às origens. “Eu tenho muito respeito pelo doce e sinto que a gente tem um patrimônio familiar na mão. Tudo que a minha família conquistou foi através da farinha e da maçã. Foi o alicerce para tudo que a gente conseguiu até agora e isso toca”, descreve.
Fotos: Petrópolis Sob Lentes
Com mais de meio século de trajetória somente no comércio petropolitano, a caminhada do negócio é constituída por períodos de alegria intensa, perdas e, acima de tudo, uma união inabalável que motiva a família a preservar e honrar a tradição. “É uma história bem bonita que a gente tenta preservar e defender através do trabalho. É o que nossos pais deixaram para a gente e o que a gente continua”, afirma.
Ao seu lado e de Simone está, ainda, o primo Vinícius Ferreira Féo. Filho da fundadora da marca, Maria de Lourdes, Vinícius tinha 12 anos quando a mãe faleceu. Dedicado ao empreendimento desde os 18, ele fala sobre a importância exercida por ela na construção do patrimônio e da base sólida familiar dos Ferreira que, hoje, mantém as lojas de Petrópolis e Teresópolis da marca.
Fotos: Petrópolis Sob Lentes
“Minha mãe era empreendedora demais. Ela não pensava e falava. Ela pensava e fazia. Não deixava para amanhã não. Ela foi montando e chegou a ter seis lojas seguidas. Ia montando, colocava o irmão para trabalhar, e foi embora”. Uma das poucas empresas a ter apenas um livro de funcionários, a firma já tem netas de ex-funcionária também contribuindo com o legado iniciado há mais de 50 anos na Cidade Imperial.
São elas Brenda e Alice Santos da Silva, de 21 e 18 anos, respectivamente. Como explica Brenda, além de dona Vilma, avó das meninas que se aposentou na empresa, também trabalharam nela seus tios e, de certa forma, sua mãe, que foi cuidadora dos avós de Marcelo. Na linha de frente, no atendimento, agora tem sido a vez de Brenda e Alice de manterem o elo de décadas entre as famílias.
“É meu primeiro emprego. Comecei a trabalhar aqui quando eu tinha de 15 para 16 anos. Desde pequenininha eu já frequentava a loja para visitar a minha avó, então parece que somos todos amigos. É bem bacana porque é família”. Do tipo que acolhe, os Doces Húngaros são a companhia certa para os dias em que os termômetros despencam, para quando o céu abre ou, então, para quem quer visitar o passado em receitas e valores mantidos no presente.
Conheci nós anos 70 sempre uma delícia. Por esses dias conheci o de Teresópolis maravilhoso também
Oi Luiz Antônio! Que bacana saber do seu carinho de longa data pela loja! Sou fã dos doces e da família!
Cresci comendo mil folhas e strudel deles. Toda vez que volto ao Brasil e a cidade onde nasci, bato ponto la mais de uma vez pra matar saudades e ainda levo para viagem!
Conheci assim que abriu, frequentei muito a loja com o Edgar, lembro da filha pequena, da esposa dele, do empregado que faxio o delicioso sorvete de queijo entre outros sabores. Em 2023vvoltarei lá com certeza. Ahhhh que saudade da minha cidade.
Doces deliciosos..
Quanta tradição!!
Dinda (Marlene) sempre adoçando nossas vidas com suas delícias!
Ela tinha uma loja doces húngaros nas duas pontes!