O conteúdo a seguir é de autoria do jornalista Eduardo de Oliveira. Ele iniciou sua carreira na “Tribuna de Petrópolis” em 1987. Depois, trabalhou nos jornais “O Dia”, “O Globo” e na sucursal carioca da revista “Veja” no Rio de Janeiro. Desde 2002 é professor universitário, na graduação em Jornalismo. É mestre em Ciência Política pela UFRJ e doutor em História pela Fundação Getúlio Vargas.
Eduardo foi meu professor no curso de graduação em Jornalismo e já presenteou o Petrópolis Sob Lentes com outras duas pesquisas:
Na Primeira Guerra Mundial, desconfiança perante alemães levou a saques e vandalismo em Petrópolis
Em outubro do ano passado, foi vendido em uma casa de leilões, na Alemanha, um mapa, impresso em 1744, da cidade russa de São Petesburgo. Elaborada pelo alemão Matthäus Seutter, a carta retrata a então capital do império da Rússia. Mas, curiosamente, neste documento, São Petesburgo é nomeada como “Petropolis” – praticamente um século antes de ser fundada, no Brasil, a Imperial Colônia de Petrópolis. Houve alguma relação entre as histórias das duas cidades, gerando esta coincidência de nomes?
São Peterburgo foi fundada em 1703, por iniciativa do czar Pedro I, o grande, e em apenas 10 anos tornou-se a capital da Rússia. Além de ter sido uma cidade planejada e erguida pela iniciativa de um imperador, São Petersburgo também teve como padroeiro São Pedro – a quem a igreja ortodoxa russa dedica o dia 29 de junho.
Apesar disso, o czar Pedro não estabeleceu formalmente um nome oficial para a “sua” nova cidade. Nas décadas seguintes, em documentos de época, era denominada “Sankt Petersburg”, “Santpiterburkh”, “Saint-Pietersburgh”, “Piterpol” e até pelo apelido “Petri”. Na década de 1740, o cientista Mikail Lomonosov, uma das mentes mais brilhantes da história russa, propôs que a cidade se chamasse Petrópolis, nome que evocava a tradição greco-romana que impérios europeus volta e meia tentavam reviver. Foi neste contexto em que se produziu o mapa de Seuttler de 1744. Vários documentos da época mostram que, até fins do século XVIII, a capital russa seria chamada ora Saint Petersburg (ou suas variantes), ora Petrópolis.
A primeira referência a uma Petrópolis brasileira é de 1823. Está registrada em uma proposta do “patriarca da independência”, José Bonifácio, apresentada na assembleia constituinte: transferir a capital do Rio de Janeiro (sujeita a ataques navais, em caso de guerra) para uma outra cidade, a ser criada no interior do país. Esta cidade, segundo a proposta, deveria chamar-se Brasilea ou Petrópolis. Parece razoável presumir que Bonifácio (que, quando jovem, efetuou uma viagem de estudos de 10 anos pela Europa), tenha se inspirado na capital da Rússia para apresentar a ideia.
Mas a relação São Petesburgo-Petrópolis provavelmente se estabeleceu através de outro personagem histórico. Em 1825, a Rússia reconheceu a independência do Brasil, dando início às relações diplomáticas entre os dois países. Uma primeira medida foi o estabelecimento de legações nas respectivas capitais. Entre os integrantes da primeira legação brasileira em São Petesburgo, em 1826, estava Paulo Barbosa da Silva. Como se sabe, 17 anos depois ele seria o idealizador da criação da imperial colônia de Petrópolis.
São Petersburgo deixaria de ser a capital russa após o golpe bolchevique de 1917. E ainda teria outros dois nomes – sendo denominada Petrograd, em 1914; e Leningrad, a partir de 1924. Após a queda do regime soviético, em 1991 um plebiscito definiu o retorno ao nome São Petersburgo, que ainda vigora. Do período em que foi chamada Petrópolis, a cidade russa mantém poucas lembranças, além de documentos antigos, como o mapa de Matthäus Seutter. Uma delas é o hotel Petrópolis, a dois quarteirões do rio Neva. E, em 2022, “Petrópolis” foi o título escolhido para um longa-metragem de ficção científica, produzido pelo Ministério da Cultura da Rússia.
Já no Brasil, o nome Petrópolis parece ter tido alguma influência na denominação de outras localidades. Há ao menos 130 municípios brasileiros, todos criados após a fundação da imperial colônia, nomeados com o sufixo “polis”. Tais municípios, em quase todos os estados (e sem contar a gaúcha Nova Petrópolis.), vão desde a vizinha Teresópolis (homenagem à imperatriz Teresa Cristina) até Desterro, capital de Santa Catarina – que em 1892 foi rebatizada Florianópolis, por causa do então presidente Floriano Peixoto.
Parabéns Carolina você como sempre nos brindou com uma valiosa”informação, “ adorei.
Muito boa matéria! Você como sempre trazendo o conhecimento tão necessário nos dias de hoje! Parabéns!!!